Cantora e compositora lança o seu primeiro disco, “Sensoreal”. É como ouvir poesia recitada ao ouvido.
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Se trabalho após trabalho é comum os artistas irem descobrindo, pouco a pouco, aquilo que verdadeiramente se encaixa no seu talento, nas suas vozes e nas suas inspirações, podemos dizer que o caminho de Rita Vian se faz cada vez mais português. "Sensoreal" é o novo (e primeiro) disco da cantora, compositora e produtora.
Sim, tal como o novo álbum tem um pouco de tudo (já lá iremos), também a sua participação no recente trabalho é variada. Rita assinou quase tudo na sua conceção, do início ao fim - se o anterior trabalho, e o primeiro EP, "Caos"a", contou com a produção de Branko, o agora lançado disco conta com detalhes de João Maia Ferreira, antes conhecido como Beiji Price.
E a assinatura presente de um nome do hip-hop não vem por acaso. Se o EP produzido em 2021 já continha referências e inspirações trazidas do fado e da música urbana, "Sensoreal" pode ser considerado um aumento e aperfeiçoamento dessa presença. Pode dizer-se que o atual trabalho de Rita Vian está até bastante dentro do universo hip-hop.
Em primeiro, o spoken word (em português, declamação ou palavra falada) é uma constante. Ouvir "Sensoreal" do início ao fim é como se nos estivessem a recitar um livro de poesia ao ouvido. E um livro em que se fala de tudo, desde sentimentos como obstinação e tristeza, até à saúde mental (presente em "Cuido de mim").
Este disco é uma nova mescla à portuguesa, logo, não poderia faltar a presença do amor. Em "Deixa-me", poderemos por momentos achar que, atrás dos arranjos eletrónicos, está uma popular e tradicional canção de amor ao som dos tambores mais portugueses. Isto porque, além do fado (que está na melodia e também na intensidade e sentimento das letras e na forma de as cantar ou declamar) e da música urbana, que é, por excelência, o hip-hop, há também a mistura entre o que é de agora e o que é de sempre: a eletrónica e a música popular portuguesa.
Ainda assim, a sua mescla não é sinónimo de caos. A cristalinidade da voz de Rita Vian continua a ser o elemento central e aglutinador de tudo.