De Niro, Whoopi Goldberg, Jane Rosenthal, Griffin Dunne, Patty Jenkins, Chazz Palminteri: festival reuniu-os em Lisboa, à volta do cinema e do storytelling.
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Já começou o Tribeca Lisboa, a versão internacionalizada do festival criado em 2002 em Nova Iorque. O Beato Innovation District vestiu-se esta sexta-feira de cinema para acolher Robert De Niro, Whoopi Goldberg e outras estrelas entre uma centena de atores, realizadores, produtores, músicos e comunicadores que abrilhantam a 1.ª edição portuguesa e europeia do festival, que fica até sábado na zona ribeirinha da cidade.
Pouco antes da hora de almoço do primeiro dia, o fundador do festival Tribeca de Nova Iorque, o histórico ator Robert De Niro, reforçou em conferência de imprensa a satisfação que lhe trouxe esta iniciativa, numa cidade que até já conhece. “Já cá vim algumas vezes, tenho alguns amigos”, adiantou, admitindo como, quando começou primeiro o festival, em Nova Iorque, não “fazia ideia” se iria durar. “Estamos muito felizes por ter chegado a Lisboa”, frisou, garantindo ser também toda a experiência “uma oportunidade de conhecer outras pessoas, outras culturas, é tudo bom”.
Pouco depois, na primeira grande talk do evento, “Restoring hope: How Tribeca inspires the world through storytelling”, uma tenda lotada assistiu a Robert De Niro e Jane Rosenthal, a produtora e co-fundadora, enquanto explicavam a história, o legado e a importância social e cultural do Tribeca Festival numa conversa moderada por Francisco Pedro Balsemão, CEO do Grupo Impresa.
Expressando orgulho na história já criada pelo festival e voltando a reiterar que a ideia de Lisboa lhe soou bem desde o primeiro minuto, o ator de “Taxi driver” falou livremente sobre a arte do storytelling e a sua capacidade de mostrar novas maneiras de prosseguir, lidar com situações; e falou sobre a verdade e a ficção, sobre os cenários alternativos que às vezes surgem, sobre política e sobre a esperança que o evento pretendeu trazer a um país e mundo abalados pelo 11 de setembro – o festival foi criado em 2002, um ano depois dos atentados. Finalmente, falou sobre empatia: “eu acho sempre que a empatia vai vencer, porque não se vence de outra forma”, disse a dado ponto.
Antes, o ator explicou ainda como escolhe filmes e guiões, dando sempre destaque à história mas também à maneira como é escrita e defendida. “A história tem de ser especial; mas muitas pessoas vêm ter comigo ao longos dos anos a dizer “ah, eu tenho uma história ótima”, e eu digo “ok, mas tem de estar escrita’”, explicou, frisando: “todas as pessoas têm uma história. É como se conta a história que a torna especial”, salientou.
A seu lado, Jane Rosenthal, produtora de filmes como “A Bronx tale”, destacou o orgulho e honra de estar no Tribeca Lisboa: “sempre que temos a oportunidade, como contadores de histórias, de ver os trabalhos dos outros, é sempre bom; mas particularmente agora num mundo que está tão instável e complexo, o podermos juntar-nos como indivíduos, e falar”, frisou, adiantando que não conhecia Lisboa mas que está a adorar: “estou a amar, gostava que houvesse mais do que 24 horas num dia”.
Whoopi e o elogio à diversidade
Na referida conferência de imprensa de lançamento, estiveram também a atriz e apresentadora Whoopi Goldberg, o ator de “Nova Iorque fora de horas” Griffin Dunne, a realizadora de “Monster” e “Mulher-Maravilha” Patty Jenkins e o ator de “A Bronx tale”, Chazz Palminteri, que elogiou o Tribeca Lisboa: “as pessoas vão a Cannes, Sundance, ao Tribeca Nova Iorque, porque não aqui?”, disse, chamando a Portugal “a joia da coroa que as pessoas não conhecem”.
Já Griffin Dunne lembrou como o festival começou como uma resposta ao 11 de setembro, perante “uma cidade que estava a sofrer tanto, com uma tragedia que afetou o mundo”, sendo agora “uma alegria vê-lo estender a sua influência globalmente”.
Por seu turno, Whoopi Goldberg, recém-chegada à capital, explicou que teve um caso de admiração à primeira vista, devido a um episódio ocorrido no aeroporto: “quando aterrei fiquei pasma, porque no aeroporto vi logo quatro pilotos e seis assistentes de bordo e eram todos negros. Nunca tinha visto nada na vida assim” destacou, reiterando a “maravilha que é ir a países diferentes e ver coisas incríveis- mas isto nunca tinha visto e tenho 112 anos”, brincou.
Cinema em todo o lado
Entre filmes e séries nacionais e internacionais, podcasts ao vivo, atuações musicais e painéis ou conversas, serão certamente mais de 100 os realizadores, atores, músicos, personalidades da comunicação e contadores de histórias, nacionais e estrangeiros, presentes no Beato Innovation District.
Entre as estrelas internacionais, os portugueses Joaquim de Almeida, Daniela Ruah e Alba Baptista, também marcam presença; tal como artistas da música, de Dino d'Santiago a Gisela João, os escritores Mia Couto e José Eduardo Agualusa, o humorista Ricardo Araújo Pereira ou atriz e modelo Sara Sampaio.
No vasto espaço da reativada zona do Beato, entre carrinhos de pipocas e áreas criativas com referências da sétima arte – há um bar Cocktails & Dreams no meio da rua, com os característicos néons – encontram-se os palcos: Tribeca Talks é uma enorme tenda onde acontecem as antecipadas conversas temáticas com muitos dos convidados, o Made in Portugal, passa filmes e séries portuguesas, o World Stories tem visionamentos estrangeiros e o Untold Stories é um espaço de conversa mais informal. Há ainda uma área onde estão a decorrer Podcasts e eventos de música em direto.
Durante os dois dias, o cartaz vai depois oscilando por filmes como "Anora", de Sean Baker, que venceu a Palma de Ouro em Cannes e que já foi exibido; o premiado em Sundance "In the summers", de Lacorazza Samudio; e ainda a estreia de “Ezra”, no sábado, com De Niro no elenco.
Há também as destacadas conversas sobre o impacto do streaming e da Inteligência Artificial no cinema, saúde mental, inovação, empoderamento das mulheres, comunidades de fãs, histórias de vida – o storytelling, nas suas diversas formas, é desde a génese uma das marcas do festival.
Pontos altos serão, entre outros, uma conversa entre Whoopi Goldberg e Ricardo Araújo Pereira sobre a natureza da comédia e do drama na forma como olhamos para a saúde mental (hoje, às 18.20 horas); e no sábado um debate sobre como o humor tem evoluído no cinema, com Afonso Pimentel, Griffin Dunne, Rui Maria Pêgo e Pêpe Rapazote (14.45 horas).
Porque a programação dos dois dias começa de manhã e só termina de noite, há também um food court e várias ativações de marca temáticas.
O evento de Lisboa nasceu de uma parceria entre a Tribeca Enterprises, o Grupo Impresa e a Câmara de Lisboa, e espera mais de 1500 pessoas por dia. O bilhete diário custa 75€ e o passe 130€.