O documentário “Life goes on”, de Albano Silva Pereira, é um gesto de admiração e amizade dedicado a Robert Frank.
Corpo do artigo
“É preciso muita força e determinação para dizer-se: consigo fazer algo novo com este meio horrendo, em que qualquer um faz milhares de fotografias em minutos.” Isto é o mais influente fotógrafo do século XX, de acordo com o “The New York Times”, conversando com Maria João Seixas, em Lisboa, no dia a seguir ao 11 de setembro de 2001. É um dos momentos de “Life goes on” (2015), documentário de Albano Silva Pereira sobre Robert Frank (1924-2019), disponível na RTP Play.
O autor de “The americans”, álbum fotográfico publicado nos EUA, em 1959, com prefácio de Jack Kerouac, que redefiniu o modo como a América se vê, revelando tensões raciais e sociais em plena década de otimismo, sabia bem o pouco que a quantidade diz sobre a natureza da fotografia: nos anos que percorreu o país, de Miami à Califórnia, captou 28 mil imagens; aproveitou 83 para o livro.
Mais do que um mergulho na sua obra, que lhe valeu a comparação com o historiador Alexis de Tocqueville, pelo olhar de forasteiro arguto que criou um fresco da sociedade americana, “Life goes on” é uma visita à intimidade do fotógrafo, no seu apartamento em Nova Iorque e no refúgio em Mabou, no Canadá, guiada por Albano Silva Pereira, antigo promotor dos Encontros de Fotografia de Coimbra, que construiu uma amizade de mais de 30 anos com Robert Frank.
Para o judeu suíço que viajou para os EUA com 20 anos e lá permaneceu durante 50, é mais importante reagir àquilo que se vê do que procurar, e da vasta gama de rostos que eternizou diz ter escolhido sempre aqueles por quem sentiu mais compaixão e compreensão. A voz-off de homem envelhecido, retirada da entrevista a Maria João Seixas, acompanha a câmara que se detém em objetos, imagens, documentos, lugares e obras da companheira de Frank, a artista plástica June Leaf.
Sobra a imagem de um homem recatado, avesso a ribaltas, e com dificuldade de falar sobre o seu trabalho. Vai distribuindo ideias: “Não faz sentido a competição entre artistas, cada um deve encontrar o seu próprio caminho.” E, apesar de detestar ser fotografado, lá consentiu um retrato em plena Rotunda da Boavista.
“Life goes on”
Albano Silva Pereira
RTP Play
2015