Cabeça de cartaz do evento foi quem mais dinamizou o público. Este sábado há ainda Taxi, Clã com Capicua e os bracarenses Mão Morta.
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Na impossibilidade de contar, uma a uma, todas as cabeças que se apresentam diante de um palco para ver e ouvir um concerto, há uma panóplia de outras formas de “medir” a densidade de espetadores num recinto. Se o fizermos pela temperatura de uma sala, que vai aquecendo à medida que mais e mais gente compõe o cenário, há algo evidente a afirmar sobre o primeiro dia de Rock à Moda do Porto: só se pôde despir os casacos já a noite passava de meio.
Estavam ainda os Jafumega em palco quando o fresco sentido, mesmo no interior do Super Bock Arena, se foi dissipando. Foi também com esta, a segunda e penúltima atuação desta sexta-feira, que algum movimento significativo foi avistado entre o público. Os primeiros passos de dança surgiram com “Kasbah”. Os primeiros saltos surgiram com “Nó cego”. E o final, num resumo da energia de todo o concerto, encerrou euforicamente com o clássico, e sucesso instantâneo em palco, “Latin América”.
Mas o grande responsável pelo suor e exercício físico foi Pedro Abrunhosa, que, numa noite de Rock à Moda do Porto que já começou com atraso, subiu ao palco 45 minutos depois do programado. Em compensação, esteve presente em cada centímetro do palco, num caminhar frenético para aqui e para acolá, durante mais de duas horas de espetáculo.
Atualidade em destaque
Como vem sendo tradição do cantor portuense, a atualidade do Mundo não poderia ser deixada de fora. Pedro Abrunhosa começou, continuou e terminou com referência à guerra e à paz. Por mais de três vezes, o recente reacendimento do conflito israelo-palestiniano foi falado e mostrado em palco, com fotografias a serem projetadas ao fundo do palco. Abrunhosa fez questão de arrancar o espetáculo desta sexta-feira com destaque para a palavra “Paz”, no entanto, foi mais tarde na noite que defendeu a sua posição política, ao pedir a Israel que responda “na mesma força com que foi atacado”, uma vez que “a causa da Palestina é demasiado nobre para ser representada pelo Hamas”.
O concerto, o único desta primeira noite de Rock à Moda do Porto onde se identificaram caras mais jovens entre o público, desenrolou-se como vem sendo costume. Não faltaram os clássicos e até as interpretações, como a de “Hallelujah”, que, juntamente com o original “Talvez Foder”, foi dedicada à guerra. E numa noite em que o sotaque do norte era rei e protagonista, Abrunhosa trouxe a palco “Rei do Bairro Alto”. E o público, ainda que esta verse sobre um conhecido local da capital, esteve à altura, vociferando a letra do início ao fim.
Apesar da acumulação de público para o último concerto – e até das dezenas que se iam espalhando e conversando pelos corredores exteriores, mesmo no decorrer dos concertos anteriores –, nem todos apareceram apenas para Pedro Abrunhosa.
Manuel Cruz e Isabel Soares foram alunos exemplares, sendo os primeiros a chegar à linha da frente e os últimos a deixá-la. As movimentações energéticas vindas do casaco vermelho da senhora na primeira fila foram visíveis durante toda a noite. Ora saltava. Ora cantava. Antes mesmo de a animação começar, quando estava ainda em palco a presença despercebida do DJ Pedro Campos, que ia passando músicas com um semblante pesado e quase sem luz de palco, o casal contava que Abrunhosa era o menos desejado para ver. “Gostamos, mas ele já o vimos várias vezes, estamos entusiasmados pelos outros, dos quais já não vemos um concerto há muito.”
Vindos propositadamente dos arredores da Régua, numa viagem que, debaixo de um temporal que pareceu dar tréguas na noite passada, durou mais de uma hora, Manuel Cruz e Isabel Soares, ao contrário do panorama geral do Pavilhão Rosa Mota, foram energéticos nos três concertos. A única acalmia parece ter sido, a par com o único silêncio ouvido durante a atuação de Jáfumega, quando a banda portuense referiu Eugénio Barreiros, membro do grupo que faleceu em 2020. A homenagem ao músico levou a um calar pesado de todas as vozes que até àquele momento se ouviam, seguindo-se uma longa salva de palmas.
Novo álbum dos Trabalhadores do Comércio
A performance dos Trabalhadores do Comércio não deixou a desejar, no entanto. A pouca dinamização do público dever-se-á justificar por grande parte do reportório ainda ser desconhecido, já que o concerto da noite passada versou sobre o novo álbum, do qual ainda são conhecidas apenas duas músicas. Apesar da queda em palco do vocalista e guitarrista, Sérgio Castro, seguiram com ânimo, tendo até a banda portuense apostado numa atuação revigorada.
Das atuações de Trabalhadores do Comércio e Jáfumega, destaque para as interpretações de importantes mulheres poetas. Os primeiros deram voz a uma composição da galega Rosalía de Castro (com quem, exatamente Sérgio, partilha apelido) e os segundos escolheram para o alinhamento a sua faixa “Rústica”, com letra de Florbela Espanca.
Na segundo edição, o Rock à Moda do Porto tem mais um dia e, por isso, continua este sábado. Ao palco do Super Bock Arena desta noite subirão Taxi e, os únicos “forasteiros” da programação, os bracarenses Mão Morta, que fecham a noite. Atuam ainda Clã, que trarão consigo uma convidada inesperada: Capicua.

