Turbojunkie, Marta Ren e Zen fecharam o segundo e último dia do festival Rock à Moda do Porto, na Super Bock Arena.
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Turbojunkie: três guitarras e uma bateria para animar o povo
Os Turbojunkie foram recebidos por um público arrefecido pelo frio e a chuva, da noite deste sábado no Rock à Moda do Porto. Começaram devagar, mas rapidamente mostraram ao que vinham com um cover de “I Wanna Be Your Dog” de Iggy Pop. Quem é do rock reconheceu e saltou ao ritmo dos acordes da guitarra de Paulo Praça. A partir desse ponto o concerto foi sempre em crescendo.
Os vilacondenses não se esqueceram de como é que se faz e só mereciam uma plateia mais recheada para assistir a uma atuação que encheu de boa música o Super Bock Arena. A performance foi q.b., como se quer nestas coisas, para a forma não se sobrepor ao conteúdo. Foi bonito ouvir toda a gente a cantar em uníssono “Born to be Wild”, só foi pena não serem mais do que umas centenas de pessoas.
A banda dos irmãos Paulo, Domingos e Simão Praça, que alguns chamarão de rock alternativo, mas que em alguns momentos vai beber ao punk e que esteve no ativo ao longo da década de 90, juntou-se novamente no ano passado. A ocasião foi o documentário “Maquete 92” (lá está, a década dos Nirvana, Soundgarden, Alice in Chains), o único filme português apresentado na secção dedicada à música do festival Porto/Post/Doc. “Nunca se sabe se foi a última vez que tocamos ao vivo”, atirou Paulo Praça, em jeito de despedida. A julgar pelo que ainda fazem, esperemos que não.
Marta Ren cantou em casa
Depois de Turbojumkiers, alguns dos casacos negros de cabedal foram embora, mas, após o jantar, chegaram as famílias ao Rock à Moda do Porto. Marta Ren com um pé partido, prometeu que ia dar tudo, na noite deste sábado, e foi isso que fez. A vantagem de a audiência não ser muito grande foi o intimismo que permitiu que até se formasse uma conversa, em calão nortenho, entre a artista e os fãs.
“It’s today”, “Don’t look” e “Worth it”, para abrir. O pé embrulhado em gesso não tirou a atitude em palco à cantora do Porto. O vozeirão de Marta Ren conquistou o Super Bock Arena. Este foi mais um concerto que merecia uma casa mais composta. “Esta canção fala sobre dois tipos de homens” - “Kinds of men” -, “mas podia ser sobre dois tipos de mulheres”, siga, sempre a rasgar. Soul cantado no limite a animar um festival de rock.
A partir da décima faixa, Marta Ren recorreu a uma cadeira para descansar o pé lesionado. “Let’s talk about the kids”, para assentar, foi a música a seguir e se a cantora ficou mais parada, a voz continuou irrequieta. Apesar dos muitos anos que já leva de carreira, a voz de Marta Ren continua a surpreender, é algo sempre inesperado naquele corpo.
O concerto terminou no mesmo registo íntimo com que começou, com a artista a negociar com o público mais uma canção: “I wanna go back”.
É impossível assistir a um concerto dos Zen de mãos nos bolsos
Quem foi ao Super Bock Arena para ouvir rock e sentir a verdadeira atitude dos artistas deste género não pode ter saído desiludido com a performance de Zen. Um festival rock não podia ter protagonistas melhores para fechar a porta, até para o ano. Rui Sila, indiferente aos tempos politicamente corretos que atravessamos, fuma (muito), bebe e vai praguejando com o público quando ele não salta. O rock também é uma postura, um inconformismo, uma vontade de “partir tudo” que Zen (nome irónico) tem de sobra.
“Salta car…”, gritou Rui Sila logo no início. O vocalista fez a parte dele e “exigiu” o mesmo do público que correspondeu. De resto, não é possível ouvir música como “Borderline” e não entrar na onda. Ou se salta ou se vira costas, não dá para ouvir estes Zen de mãos nos bolsos.
O público do Rock à Moda do Porto voltou a transfigurar-se para este último concerto, com as famílias que tinham vindo ver Marta Ren a darem lugar aos saudosistas do grunge dos anos 90, alguns deles recuperando a imagem da camisa de flanela, outros já mais formais, mas todos iguais quando começaram a pular. O concerto de Zen foi, provavelmente, o momento em que o Super Bock Arena esteve mais cheio, neste segundo dia.
A banda do Porto está a celebrar 25 anos sobre o marco que foi a edição do disco “The Privilege of Making The Wrong Choise”, ainda hoje recordado com saudade pelos amantes do rock. Para matar saudades deste trabalho não faltaram temas como “Mutant” ou “U.N.L.O”. O festival que celebra o rock feito no Norte despediu-se a bombar.