Os Xutos & Pontapés tiveram a árdua tarefa de aquecer o público que aguardava ansiosamente o homem da primeira noite de Rock in Rio: Bruce Springsteen.
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Presença assídua no Parque da Bela Vista, os Xutos & Pontapés subiram ao Palco Mundo pouco passava das 22 horas e à sua frente agigantava-se uma multidão que cobria todo o anfiteatro natural. Arrancaram com um clássico de 1988, "Enquanto a noite cai", e seguiram para "Salve-se quem puder", uma das canções do último disco, "Puro". Mas foi o êxito "Contentores" que fez a multidão reagir. Talvez a primeira reação em massa registada durante todo o dia no Palco Mundo, que antes tinha sido pisado pelos britânicos Stereophonics e tinha recebido o musical que celebra os 30 anos do festival.
Os Xutos & Pontapés sabiam ao que vinham e que a chave para fazer mexer milhares de fãs de Springsteen só podia passar por um alinhamento repleto de êxitos como "Não sou o único", "Mundo ao contrário", "A vida vai torta", "Homem do leme" ou "Chuva dissolvente".
Para o final deixaram as sempre incendiárias "Maria" e "Casinha".
Ao cair da noite, os britânicos Stereophonics tocaram para uma plateia repleta...de pessoas que guardavam lugar para o concerto de Bruce Springsteen. A falta de entusiasmo perante a atuação do grupo era visível, com muitos a optarem por tirar selfies, jantar ou conversar enquanto o concerto decorria. Nem os esforços do vocalista, Kelly Jones, ar simpático e a anunciar o que ia tocando, surtiram grande efeito junto da multidão.
Bem menos concorrido estava o concerto de Black Lips, no Palco Vodafone, mas, em contrapartida, quem ali estava queria realmente ver o espetáculo dos norte-americanos. Indie rock pululante, rolos de papel higiénico lançados para o público e o sol a pôr-se atrás do palco pintaram o cenário ideal para quem queria algum rock neste primeiro dia de Rock in Rio.
À mesma hora, Mart'nália encantava com "Mulheres", canção do pai, Martinho da Vila, na Rock Street, cheia para degustar caipirinhas e deixar-se envolver pelos ritmos do Brasil.
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Os primeiros momentos no recinto do Rock in Rio foram suficientes para constatar que o festival prossegue a sua propensão em afirmar-se como um evento de entretenimento que não se limita a oferecer música.
Um pouco por todo o lado abundam stands tripulados por exultantes animadores que alardeiam passatempos ou ofertas de brindes. É fácil dar de caras com sujeitos mascarados de pão de forma ou indivíduos afundados numa montanha de poltronas insufláveis. Existem bancas a vender bonés azeiteiros a 30 euros e não falta um balcão da Remax, um salão da Lúcia Piloto ou um estabelecimento dos relógios Swatch. Em cima do palco Street Dance até cintila um automóvel rouge descapotável, não se sabe bem para quê mas deve ser para ouvir melhor a música com os olhos.
Como tal, acabou por ser surpreendente vislumbrar neste ecossistema uma banda como os Sunflowers, estupendo duo de garage rock vulcanizado em surf punk a dar, e muito bem, o primeiro concerto de todo o festival. Foi no palco Vodafone, num dos topos do Parque da Bela Vista, lá ao fundo, ao lado de uma roda gigante.
Com uma guitarra cheia de veneno e uma bateria quase perversa, o duo do Porto revelou-se um bálsamo de autenticidade rock'n'roll no meio daquele recinto todo sofisticado. Em pouco mais de meia hora disparou uma música que pareceu um grito transpirado a intrometer-se na maquilhagem, uma formidável detonação de verdade que saiu do palco ao som de "I wanna be your dog", dos Stooges.
Horas depois, o palco principal abriu com uma espécie de teatro musical que pretende comemorar os 30 anos do Rock in Rio. O espetáculo vai ser apresentado todos os dias desta edição e junta 40 atores e bailarinos para tentarem transportar o público para uma viagem à história do evento. Com uma coreografia espalhafatosa, algures entre Filipe La Feria, aula de aeróbica e marchas populares, só com muito boa vontade se dirá que o musical desencadeou entusiasmo num público que maioritariamente aguardava a aparição de Bruce Springsteen.