Festival junta quatro mil pessoas numa freguesia de Guimarães com apenas 1700 habitantes. Lucros vão ajudar a creche, centro de convívio, cantina social, grupo folclórico e serviços de apoio domiciliário. Todos estão orgulhosos, público e organização.
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A organização do Rock in Rio Febras – ou melhor: Festival Rock (que acontece nas margens) do Rio Febras – passou o teste de crescimento: aumentou a lotação de 1500 para quatro mil espectadores. Quando as portas do Parque Fluvial de Briteiros, Guimarães, abriram às 15 horas deste sábado, os festivaleiros foram chegando, mas com mais intensidade com a entrada da noite.
Perdeu-se em assistência no primeiro concerto, dos Quarta às Nove, ganhou-se na facilidade de organizar o estacionamento, numa terra que habitualmente tem 1700 habitantes (se contarmos a União das Freguesias de São Salvador e Santa Leocádia) e este sábado teve quatro mil visitantes.
Vasco Marques, presidente da Casa do Povo de Briteiros, a minutos de abrir as portas do festival, era um homem tranquilo. “Nós temos aqui uma equipa de voluntários habituados a organizar eventos. Embora nunca tenhamos tido nada desta dimensão, vai correr bem”, dizia. “Há gente nas barraquinhas que nunca tirou um fino”, acrescenta, entre risos, sublinhando o cariz informal da organização e o facto de ser tudo feito com voluntários.
Henrique Barbosa, o presidente da secção de Petanca da Casa do Povo, está dividido: “Temos cinco equipas a participar num torneio em Vigo, mas tive que ficar aqui para dar uma ajuda”.
Tudo por uma boa causa
Vasco Marques não esconde que a onda mediática que se criou à volta do festival, depois de a organização do Rock in Rio os acusar de “concorrência desleal” e “uso indevido de marca”, vai contribuir para aumentar, “e muito”, o encaixe financeiro.
“Temos uma série de valências, entre as quais a creche, centro de convívio, cantina social, grupo folclórico, apoio domiciliário e, para tudo isto, precisamos de 450 mil euros anuais. Temos que ter muita imaginação para conseguir esse tipo de verbas”, afirma.
Quem vai chegando espalhava-se pelos bares, nas sombras frescas das margens do Rio Febras. Enquanto o sol brilhava, houve quem arriscasse mergulhar na piscina natural, em frente à Casa do Povo.
“Quem queria acabar com isto, pelo que se vê, pode ter dado início aqui a fazer nascer uma coisa maior”, comenta Margarida Couceiro, que veio de Coimbra para “estudar o fenómeno”.
Isabel Esteves, a vizinha do festival que empresta a água e a eletricidade e que permitiu que o recinto crescesse 40 metros para o seu terreno, está feliz por ver a sua freguesia no centro das atenções. “Quando percebemos que era preciso mais espaço, não foi preciso pedir-me, fui eu que ofereci”, sublinha. Isabel, o marido e as três filhas fazem parte dos 80 voluntários que colocam o festival em marcha.
Os Segundo Minuto estavam anunciados como a primeira banda rock e, quando começaram a performance, a sombra já refrescava uma boa área em frente ao palco, o que contribuiu para a festa animar.
Filipa Ceia veio de Lisboa juntamente com quatro amigos de Torres Vedras. “Ficamos a saber que o festival existia depois de toda a confusão que se gerou por causa do nome. Vivo em Alvalade, posso dizer que sou vizinha do Rock in Rio Lisboa e nunca lá fui, mas vim aqui. Este aqui é uma coisa genuína”, afirma.
“É um grande orgulho”
“Em 2022 não vim, mas este ano, com toda esta confusão, não podia perder”, diz Catarina Oliveira , residente em São Torcato, Guimarães. Bárbara Lima, outra vimaranense, sublinha o orgulho “na organização desta pequena freguesia que fez frente a um gigante de Lisboa”. Quem também está orgulhoso é o presidente da Junta, Diogo Costa, que nos seus 25 anos pode ser confundido com os festivaleiros. “É um grande orgulho esta união em prol de uma causa que é da freguesia”.