A edição de 2016 do Rock in Rio - Lisboa terminou na madrugada desta segunda-feira, com 47 mil pessoas a despedirem-se do festival ao som do DJ Avicii. Ao longo de cinco dias, passaram pelo Parque da Bela Vista 329 mil pessoas.
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O DJ e produtor sueco subiu ao seu púlpito às 22.45 horas, gesticulando como se fosse um maestro a dirigir a multidão frenética aglomerada à sua frente. Envolto em projeções, passou canções originais e remisturas, nesta que poderá ter sido uma das últimas oportunidades para o ver ao vivo em Portugal. É que o músico de 26 anos anunciou, no início deste ano, que ia abandonar a vida artística.
Poderosos feixes de luz, fumos, chamas e fogo-de-artifício a estalar no céu compuseram o cenário de uma hora e meia de espetáculo, que encerrou em festa a 7.ª edição do Rock in Rio.
Charlie Puth leva fãs às lágrimas no Rock in Rio
O músico norte-americano Charlie Puth estreou-se, este domingo, em palcos portugueses, com um espetáculo que levou as fãs mais devotas às lágrimas.
Com apenas 24 anos e um disco, "Nine Track Mind" (2015), Charlie Puth já se pode orgulhar de pôr milhares de fãs a cantar muitas das suas canções. A maior parte do público é adolescente, grande parte do sexo feminino, e o músico sabe bem como deixá-las pelo beicinho.
Sentado ao piano, arranca com a canção que o popularizou, "Marvin Gaye" - que em disco conta com a participação de Meghan Trainor -, e logo é embrulhado pelo coro intenso que vêm do público. São milhares - apesar de muitos menos do que em dias anteriores - mas não deixam de ser uma massa humana impressionante para quem está nestas andanças há pouco mais de um ano, conforme o próprio confessa: "Há um ano não imaginava que ia estar aqui a fazer isto."
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Com um sorriso rasgado e um entusiasmo que se sente genuíno, Charlie Puth desembrulha as canções mais e menos conhecidas, confessa que gostava de experimentar o slide que sobrevoa o palco principal e perde-se em elogios às raparigas da plateia - muitos elogios. É jovem, talentoso e descontraído, uma soma que parece contribuir para o sucesso. Até parou o concerto para enviar um snapchat para todos os seus seguidores, em direto do Parque da Bela Vista. Para uma geração que passa o concerto de telemóvel na mão, está tudo em perfeita sintonia.
"We don't talk anymore", na versão original com Selena Gomez, e "One call away" ficaram para o final e quando já só cabia mais uma canção no alinhamento surgiu "See you again" (partilhada em disco com Wiz Khalifa), que fez com que muitas meninas terminassem o concerto com a maquilhagem esborratada.
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Recrutada quase de improviso para substituir Ariana Grande - cancelou por motivos de doença - a brasileira Ivete Sangalo acabou por dar o seu segundo concerto no Rock in Rio em menos de 24 horas. Poder-se-ia pensar que seria um espetáculo apenas para encher chouriços perante uma assistência que nem sequer pagou bilhete para vê-la. Mas sucedeu exatamente o contrário, ou seja, aconteceu praticamente o mesmo da véspera: toda a gente doida a dançar e a abanar as nádegas do início ao fim.
Eu vou buscar vocês ao aeroporto e podem ficar em minha casa"
Assistir a tudo isso do topo de uma das colinas proporcionava uma impressionante imagem. O JN até viu polícias que sacavam do seu smartphone para fotografar o cenário. Ivete Sangalo apresentou um concerto em quase tudo semelhante ao de sábado, incluindo uma canção nova que "é um tema que passa na novela das sete", segundo ela. Pelo meio desafiou os portugueses a apanharem um avião para Salvador da Bahia. "Eu vou buscar vocês ao aeroporto e podem ficar em minha casa".
B Fachada memorável no Palco Vodafone
Sem grandes alaridos nem espalhafatos, o português B Fachada acabou por protagonizar um dos concertos mais memoráveis de toda esta edição. A meio da tarde, com pouco mais de mil pessoas à sua frente, Bernardo Fachada voltou a dispensar a presença de uma banda e ali permaneceu sozinho, debruçado no seu teclado e outra maquinaria, enquanto despejava aquela sua música que sabiamente acasala alicerces eletrónicos ao folclore português e a uma inspirada visão de uma portugalidade que num momento pode ser romântica para logo a seguir enveredar pelo tom jocoso ou pela acutilância crítica.
É também um tipo cheio de humor, sempre disposto a disparar comentários para disseminar a gargalhada no público. Foi uma festa tremenda, até se criou um comboio humano a dançar na assistência durante "Dá mais música à bófia". A dada altura a eletricidade voltou a falhar - e ainda se temeu um novo episódio como nos Korn - mas nem isso desarmou B Fachada: o rapaz não se embrulhou em amuos, desatou a gozar com a situação e continuou a cantar à capela, o que num palco daquelas dimensões é obra - e é um sinal de enorme respeito pelo público.
Com a assistência deliciada, rendida, convencida, a não poupar-lhe aplausos, B Fachada tentou despedir-se com "Tó Zé", mas seria obrigado a voltar para um encore. "Esta canção é para as pessoas que veem novelas e não sabem o que eu estou aqui a fazer", disse, antes de mergulhar em "Só te falta seres mulher", uma peça de um dos mais inspirados discos da pop portuguesa deste século, o seu trabalho homónimo editado em 2009.
Seguiram-se as espanholas Hinds, quatro madrilenas que executam pop encrespada e até têm um punhado de boas canções - "Bamboo", por exemplo - mas que no Parque da Bela Vista deram um concerto algo murcho, incapaz de transparecer a efervescência que delas se conhece em disco.
Em parte tal terá acontecido pelas medíocres condições sonoras: as vozes, abafadas pelas guitarras, praticamente não se ouviam. Semelhante adversidade até se aceitaria durante as duas ou três primeiras canções, até que alguém resolvesse o assunto - mas, pelos vistos, ninguém o fez e assim permaneceu o concerto inteiro. As moças mostraram-se demasiado inibidas, faltou-lhes uma certa selvajaria, o que também não ajudou a um concerto pouco ou nada incendiário quando aquela música até tem potencial para espicaçar os ânimos.