A curta mas marcante memória da icónica sala de espetáculos lisboeta está finalmente contada no livro “Rock Rendez Vous: uma história em imagens".
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Não é exagero algum afirmar-se que, em matéria de rock pátrio, a desejada revolução chegou apenas seis anos depois do 25 de Abril. Dois acontecimentos soltos, mas intensamente relacionados entre si, alimentam a crença: o lançamento de “Ar de rock”, disco com que Rui Veloso agitou a água estanque da música portuguesa, e a abertura do Rock Rendez Vous (RRV).
Se a importância do disco de estreia do músico portuense tem sido justamente destacada, sobre a sala de espetáculos lisboeta não havia, até à data, registo documental de monta que atestasse a influência.
É essa lacuna que “Rock Rendez Vous: uma história em imagens” vem preencher. A objetiva de sete fotógrafos (Rui Vasco, Peter Machado, Pedro Lopes, José Faísca, Fred Somsen, Céu Guarda e Álvaro Rosendo) é exemplar no modo como capta a crueza e a instantaneidade em que assentou este fenómeno artístico, mas também social, que foi o RRV.
Durante uma década, o número 175 da Rua da Beneficência foi sinónimo de rebeldia, mas sobretudo criatividade e engenho. À imagem dos míticos Marquee Club (Londres), do Hacienda (Manchester) ou do CBGB (Nova Iorque), também Lisboa teve o seu laboratório musical de inventividade, muito antes do advento dos ‘clusters’, nómadas digitais e outros supostos empreendedores.
Percorrer a quase infindável galeria de imagens que compõe esta edição é aceder, em estado bruto, à essência da música portuguesa nessa década de descobertas e deslumbramentos. Lá encontramos António Variações, GNR, Mão Morta, Xutos, Rádio Macau, Mler Ife Dada, Heróis do Mar, Pop Dell’Arte ou a Go Graal Blues Band, a par de outros cuja memória não resistiu à passagem do tempos, como Ocaso Épico, Portugueses Suaves ou Amen Sacristi.
Muitos destes nomes foram revelados no mítico concurso de bandas promovido pelo RRV, sem o qual a história do rock indígena seria por certo diferente.
Deste impressionante acervo fica a certeza de que a própria atmosfera muito particular daquela sala de espetáculos impelia a uma entrega dos músicos que não raro resultava num êxtase coletivo ainda hoje lembrado por muitos.