"A estranha beleza da vida" é o terceiro disco que Rodrigo Leão lança em dois anos. "A criação é como uma terapia", afirma.
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Em pouco mais de 18 meses, entre março de 2020 e outubro deste ano, Rodrigo Leão lançou três discos ("O método", "Avis 2020" e "A estranha beleza da vida"). Se a produtividade criativa não é novidade no percurso do fundador dos Sétima Legião e Madredeus - como o demonstram os 23 discos lançados desde que se estreou a solo, em 1993 -, a verdade é que, em tempos de pandemia e de restrições várias, essa abundância surpreendeu até o próprio músico.
Basta lembrar que, para compor "O método", Leão precisou de três anos, enquanto "A estranha beleza da vida" não necessitou mais de cinco meses.
"Houve uma tentativa de esquecer que estávamos em pandemia", assume. Daí o tom "mais positivo e esperançoso" do disco, visto pelo autor de "Alma mater" como uma tentativa de "remar contra a corrente".
Mas não só. Aquando do primeiro confinamento, o compositor retirou-se para Avis em busca de inspiração. Todavia, em seis meses de permanência no Alentejo, o saldo musical foi desolador, em parte devido ao temor pelo novo coronavírus, contentando-se apenas com a realização de filmes inspirados pela natureza.
Só ao regressar a Lisboa, o bloqueio foi finalmente interrompido. E de um modo tão intenso que faz o músico acreditar que se tratou de "uma espécie de vingança pelos meses de esterilidade criativa".
"Otimista" por natureza, Rodrigo Leão procurou transpor para o título do novo disco a crença pessoal de que "apesar dos momentos estranhos que temos vivido, a beleza faz sempre parte da essência da vida".
A contemplação e a quietude que as suas músicas suscitam poderiam indicar que Rodrigo Leão não se afasta, no seu dia a dia, desses territórios de tranquilidade. A suspeita não passa disso mesmo, garante: "A criação é como uma terapia para mim. Não consigo estar sequer cinco minutos sentado no mesmo lugar, mas a música tranquila que faço é o oposto disso".
O poder das parcerias
Iniciada nas últimas semanas, a digressão de "Cinema project" deveria passar já amanhã pela Casa da Música, no Porto, mas a data foi entretanto adiada para 3 de abril, devido às novas regras de acesso às salas e à dificuldade de testagem nos dias de Natal.
Até junho, há mais 20 datas previstas, embora o risco de um novo adiamento continue a pairar. Para o músico, um novo fecho generalizado "teria consequências devastadoras". Porém, os mais penalizados seriam "os artistas que estão a começar e já enfrentam dificuldades acrescidas na divulgação do seu trabalho".
Pelas canções de "A estranha beleza da vida" ecoam vozes como as de Kurt Wagner, Martirio, Michelle Gurevich ou Surma. A procura de parcerias criativas tem acompanhado Leão durante a sua carreira, mas o impacto dessas cumplicidades continua a surpreendê-lo. "O que me faz convidar um músico é, por norma, a admiração, mas pode ser também a maneira como canta ou até faz a pontuação de determinadas palavras. Tenho tido a sorte de contar com músicos que têm acrescentado muito ao meu trabalho", assevera.