Banda histórica que se recusa a passar à História, os Rolling Stones têm um novo disco, o 24º de originais da sua vetusta carreira. “Hackney diamonds” revela-nos uma banda sem prazo de validade que escarnece das leis que regem os simples mortais.
Corpo do artigo
Não estão de regresso, porque, na verdade, nunca deixaram de andar por aí. Sessenta e dois anos depois da sua formação, os Rolling Stones mantêm a curiosidade e o frenesim criativo dos primeiros tempos, mesmo que hoje sejam todos respeitáveis octogenários.
Disponível desde esta sexta-feira em todas as plataformas, “Hackney diamonds” é um reencontro da mítica banda – hoje reduzida ao trio formado por Mick Jagger, Keith Richards e Ronnie Woods – com as suas próprias origens no bairro londrino de Hackney, em tempos nos quais os seus membros sonhavam apenas em seguir as pisadas dos grandes ídolos de blues e rock'n'roll, muito distantes de imaginar que eles próprios se converteriam pouco depois em ícones da música popular.
Gravado em apenas um mês em diferentes partes do globo, como Los Angeles, Bahamas e Nova Iorque, o sucessor de “Blue & Lonesome” - álbum de versões de blues e rock - resgata, na sua dúzia de canções, essa energia dos primeiros anos, mas filtrada pela maior sapiência que os anos (por vezes) trazem. Para encontrarmos o anterior disco de originais é preciso recuar até 2005, ano em que editaram o pouco consensual "A bigger bang".
Rodeando-se de ilustres como Paul McCartney, Stevie Wonder ou Elton John e lustres como Lady Gaga, os Stones terão assinado um dos pontos altos da sua discografia numa idade que quase todos associam ao ocaso criativo. Quem o assegura é a crítica especializada: “o seu melhor disco desde os anos 70 (“The Independent”), “não soavam tão bem há meio século” (“Rolling Stone”).
Excesso de reverência ou não, “Hackney diamonds” é o registo de uma banda que não se limita a olhar para o passado. Mesmo que não o renegue em absoluto. Dois dos temas do disco, “Mess it up” e “Live by the sword”, ainda incluem o contributo de Charlie Watts, o baterista do grupo durante 58 anos que viria a falecer em 2021),e até Bill Wyman, baixista ao longo de três décadas, colabora num dos temas, demonstrando que o legado histórico está acima de qualquer arrufo momentâneo.