“O Hotel Palace” é a nova e surpreendente comédia do realizador que já tem 90 anos. Estreia esta quinta-feira nos cinemas.
Corpo do artigo
Roman Polanski é um autor incontornável na história do cinema. Das curtas na Polónia, de onde é originário, e onde dirigiu o magnífico primeiro filme “A faca na água”, passando pelos títulos em Inglaterra, “O beco” e “Repulsa”, e nos EUA, os clássicos “Chinatown” e “A semente do diabo”, Polanski tem um rasto de obras que ficarão para sempre na memória cinéfila coletiva.
Se o seu universo é quase sempre mais sombrio, como “O pianista”, em que revisita uma guerra que ainda conheceu, serão menos conhecidas as suas incursões pela comédia, como “What?” ou o genial “Por favor não me mordas o pescoço”.
Assim, não é de todo imprevista esta sua nova obra, que poderá ou não ser a última – atingiu os 90 anos de idade –, e na qual, pensando-se em testamento artístico, executa um arrasador ajuste de contas com uma sociedade que nem sempre o tratou como devia.
“O Hotel Palace”, que esta quinta-feira estreia nas salas portuguesas, inspira-se na unidade hoteleira nos Alpes suíços, perto de Gstaadt, onde Polanski tem casa, e onde se instalam muitos dos seus amigos quando por lá passam.
No filme, estamos na passagem de ano de 1999 para 2000, e a fauna de hóspedes, que inclui também um verdadeiro pinguim, um grupo de mafiosos russos, um antigo ator porno, uma marquesa francesa, um americano com um plano para aproveitar o anunciado “bug do milénio” para se tornar milionário e ainda um famoso cirurgião plástico.
Este último inspira-se no verdadeiro Dr. Ivo Pitanguy e permite ao português Joaquim de Almeida contracenar com Fanny Ardant, já com alguma ligação também ao nosso país, e partilhar o cartaz com outras figuras bem conhecidas como John Clesse ou Mickey Rourke.
O catálogo escatológico é completo, o mau gosto é assumido, o gozo com os malefícios da idade e com a morte é tão evidente que só pode ser deliberado e tem como alvo não só uma certa aristocracia que vive completamente fora dos problemas do comum dos mortais, como se aplica afinal a toda a condição humana.
Só a alguém com a idade e o talento de Roman Polanski se podia permitir tamanha ousadia.