No seguimento de uma petição, que reúne 37 signatários, entre os quais Mário Cláudio, Ilda Figueiredo e António Lobo Xavier, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, deu instruções para remover a estátua de Camilo, que está instalada no largo da antiga Cadeia da Relação, no Porto.
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Para justificar a retirada da escultura da autoria de Francisco Simões do Largo Amor de Perdição, no Porto, os signatários falam em "desgosto estético" e "desaprovação moral" e intitulam o exemplar como "mais ou menos pornográfico". A estátua representa um homem vestido a abraçar uma mulher nua. O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, acedeu ao pedido e deu ordem para a remoção da mesma.
O autarca reencaminhou a carta enviada pelos signatários da petição ao vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, com uma nota escrita pelo próprio: "Não tendo havido qualquer deliberação municipal para erigir tão deselegante obra, e concordando com o que tão ilustres cidadãos nos suscitam, solicito que se proceda à remoção daquele objeto, que deverá ficar nas reservas municipais". O JN tentou obter mais esclarecimentos junto do vereador, mas sem sucesso.
Para Ilda Figueiredo, vereadora da CDU e uma das signatárias, o que está em causa é uma situação de "desigualdade" e "desrespeito". Ao JN, fala de Ana Plácido como uma mulher "corajosa e lutadora", que merece ser "respeitada". Diz que sempre considerou que a estátua "não prestigia" a escritora. Por uma questão de igualdade, entende que "deviam estar os dois nus ou vestidos". Defende que a estátua pode ser transferida, mas não se mostra favorável à mudança para uma reserva municipal.
Entretanto, a vereadora alterou a sua posição.
O ex-banqueiro Artur Santos Silva e o antigo deputado comunista Honório Novo são outros dos nomes que constam da lista de signatários.
Escultura foi oferecida por Francisco Simões em 2012
Conhecida como estátua do Camilo, a escultura é habitualmente interpretada como retratando os escritores Camilo Castelo Branco, autor de "Amor de Perdição", e Ana Plácido. Camilo e Ana Plácido estiveram detidos um ano na Cadeia da Relação, no Porto, enquanto aguardavam julgamento, acusados do crime de adultério. Ambos viveram juntos entre 1861, ano em que Camilo saiu da cadeia, e 1890, ano do suicídio do escritor.
A escultura em bronze, de quatro metros, foi oferecida por Francisco Simões no ano em que se celebraram os 150 anos da publicação do romance "Amor de Perdição": em 2012. E por sugestão da Comissão de Toponímia, o espaço junto à Cadeia da Relação passou a chamar-se "Largo do Amor de Perdição".
A cerimónia de inauguração teve lugar em 16 dezembro de 2012. À data, era Rui Rio quem presidia à Câmara do Porto. O JN tentou contactar o ex-autarca, sem sucesso.
"Há um tempo para tudo"
Na carta enviada pelos signatários ao presidente da Câmara do Porto, e à qual o JN teve acesso, pode ler-se que "Há um tempo para tudo".
"Houve um tempo em que os nossos olhos pousaram naquilo que dizem ser uma estátua de Camilo e que foi despejada junto da antiga Cadeia da Relação no Porto, no local que tem o belo nome de Largo do Amor de Perdição. Os nossos olhos pousavam em semelhante objeto, mas não dávamos notícia do nosso desgosto. Chegou o momento de o fazermos, e ao nosso desgosto estético acabou por se juntar uma desaprovação moral. O grande amor de Camilo foi Ana Plácido, cuja memória não merece o ultraje de se pôr o génio do Amor de Perdição e das Novelas do Minho, abraçado a um exemplar mais ou menos pornográfico", continuam.
O grupo pede, assim, "o favor higiénico de mandar desentulhar aquele belo Largo de tão lamentável peça e despejá-la onde não possa agredir a memória de Camilo".