Vocalista e letrista dos GNR encheu Livraria Lello com a apresentação do seu novo livro de poemas e letras de canções.
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Na proclamada livraria mais bonita do Mundo, num estival entardecer portuense de fim de semana, os ânimos preparavam-se para receber uma das personalidades mais marcantes do rock nacional – mais do que isso, do rock à moda do Porto.
Enquanto isso, êxitos como “+ vale nunca”, “Pronúncia do Norte” ou “Sangue Oculto” foram preenchendo a atmosfera que só encontrou como limite físico o vitral onde todos os olhos convergiam, e se lê “Decus in Labore” (dignidade no trabalho): são 55 painéis assentes numa estrutura de ferro, que não passam despercebidos a quem vai entrando, seja para observar, comentar, ou tirar fotografias - e são tão belos que mesmerizam.
Com a acolhedora Livraria Lello já cheia, vislumbra-se aquele que todos esperam: Rui Reininho entra porta adentro para apresentar o livro “Soñetos”, editado pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, na cidade que o viu nascer em 1955 e a crescer daí em diante.
O novo volume insere-se na série “Letra poema”, da coleção Plural, e tem como grande missão reparar a falha que dividiu o poema da letra de uma canção. É nisso que consiste “Soñetos”: uma exata coletânea de letras escritas por Reininho, desde as que concebeu no Grupo Novo Rock (GNR), às que também canta em nome próprio desde 2008.
Ao vocalista e compositor juntou-se um homónimo Rui, Couceiro de apelido, para uma conversa em que este vincou toda a admiração que nutre pelo outro desde uns tenros oito anos.
Antes de ser editor de livros e escritor (publicou em 2022 “Baiôa sem data para morrer”), Rui Couceiro era fã afincado da banda a que Reininho se juntou em 1981. Couceiro contou aos presentes um episódio que se repetiu vezes sem conta: o de tentar vestir a pele de Reininho diariamente na varanda de sua casa, enquanto várias dezenas de apartamentos vizinhos formavam um público (quase) semelhante ao que encheu o estádio de Alvalade em 1992, no primeiro concerto de uma banda portuguesa num estádio.
Mais do que as músicas, foram letras como “a esfinge de um anjo fumegante” ou “biombos indiscretos” que o fascinaram e o levaram a designar o cantor “especialista na extravagância poética”. Enquanto percorriam “Soñetos” de fio a pavio, Reininho declamou, naquele seu peculiar tom de tenor, poemas como “Pena de morte”, “USA” ou “Ananás”.