Por mais do que uma vez, no jeito gingão de sempre, disse ao público que a seguir vinha uma “daquelas músicas do século passado” – como se fosse coisa pouca.
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Esta sexta-feira à noite, em Braga, Rui Veloso percorreu os sucessos de mais de 40 anos de carreira acompanhado pelos guitarristas Eduardo Espinho e Alexandre Manaia. E isso foi um presente para quem lá esteve.
O novo formato em que o cantor se apresenta, num trio de guitarras em que todos tocam, só ele canta e outros dois músicos assumem os “back-vocals”, cria desde logo um cenário intimista, potenciado por um jogo de luzes minimalista e, neste caso, pela excelente acústica do grande auditório do Forum Braga.
Por isso, o foco esteve todo na voz de Rui Veloso – que continua irrepreensível – e nos acordes das várias guitarras que os três foram usando. Umas mais especiais do que outras, como a do pai do cantor, o que criou um momento de suspense quando Rui Veloso ficou em silêncio, pôs as mãos na cara e emocionou-se assim que lhe deram a viola.
“Esta era a viola do meu pai. É a primeira vez que toco com ela ao vivo”, justificou. Aqueles segundos de silêncio que se fizeram, antes de uma ovação do público, deram mais embalo para o que faltava do concerto – e em que não faltaram todos os grandes sucessos, nem mesmo os feitos com os Cabeças no Ar (“Primeiro Beijo”) e com os Rio Grande (“Postal dos Correios”).
Duas horas depois dos primeiros acordes, a partir da belíssima “Nunca me esqueci de ti”, o fecho chegou com os inevitáveis “Não há estrelas no céu” e “Paixão”. O momento final foi, aliás, aquele em que o público que encheu a sala fez questão de participar de forma mais enérgica, ligando as lanternas dos telemóveis e assumindo-se mais protagonista do que nunca.
A última música foi tão envolvente que muitas vezes Rui Veloso nem precisou de se aproximar do microfone, bastou usar a guitarra e a harmónica, porque quem estava sentado na plateia fez o resto. E isso, todos perceberam, deixou-o derretido. “Maravilha, pessoal, foi muito bom estar aqui”, atirou, naquela simplicidade desconcertante.
A despedida foi feita debaixo de um longa e intensa ovação de pé. O que só prova que aquelas músicas não são do século passado – são intemporais, são História.