O “Rei da Comédia Inspiradora”, como é descrito, volta a Lisboa e estreia-se no Porto, no âmbito da nova tour mundial.
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É o regresso de Russell Howard a Portugal, dois anos depois da estreia em Lisboa, com uma confissão ao JN: da primeira vez, foi ele quem pediu para atuar cá. As sessões, no Villaret, acabariam por esgotar.
Nada de novo para o britânico: aos 45 anos, é um fenómeno da comédia mundial e esgota salas pelo mundo, cria programas na televisão britânica – um deles, com a sua mãe –, protagoniza especiais da Netflix. No âmbito da nova tour, o comediante atua quarta no Coliseu de Lisboa e quinta-feira no do Porto, a estreia na Invicta, que diz estar “ansioso” por conhecer.
Ao público, Howard traz a sua versão do humor britânico: a aparente inocência e puerilidade, misturadas com visões cortantes sobre as redes sociais, o amor, as pessoas, os políticos, ele próprio, os locais. Chamam-lhe ‘Rei da Comédia Inspiradora’, no sentido “uplifting”, de tentar criar alguma ordem com o humor, de cumprir o propósito de deixar as pessoas bem-dispostas. E conta-nos que o faz desde sempre. “Nem sei bem quando comecei. Na escola já imitava professores, amigos, já fazia rir. Tenho uma família muito engraçada – e não era muito alto, então tinha de ser engraçado para não apanhar no recreio”.
Para o nativo de Bristol, “o riso é tudo, sempre adorei fazer rir. Era como um mecanismo de defesa e depois era algo que não conseguia parar de fazer. Tenho um filho de nove meses, e o que mais gosto é de lhe fazer cócegas e ouvi-lo rir – se bem que cócegas é batota”, brinca.
Quando começou, há mais de 20 anos, o mundo era um lugar diferente, o riso uma ferramenta simples. “Era tudo diferente. Não tínhamos muito que fazer, lembro-me de passar horas a ver a chuva e a pensar na vida, a desenvolver uma personalidade. Hoje, os miúdos não têm de desenvolver uma personalidade, mas uma marca, quase”, reflete.
Um hobby “fora de controle
Aos 16 anos, começou a seguir stand up comedy em cassetes de vídeo, porque “não havia muita” na televisão; e depois, vieram os primeiros espetáculos. “Foi tudo como um hobby que fugiu de controle. De repente estava a fazer arenas, recordes, a viajar. Mas a melhor parte? É que continuo a fazer o meu hobby. Não estou a perseguir nada, faço as pessoas rir com o meu hobby, e isso é o melhor”.
No Reino Unido, o humorista ficou muito conhecido por uma série de programas, que protagonizou com a sua mãe, iniciados em 2016. No resto do mundo, teve uma ajuda das plataformas: só no Youtube, os seus vídeos foram vistos mais de 510 milhões de vezes. Na Netflix, os especiais “Recalibrate” e “Lubricant” tornaram Howard um rosto familiar e o último, de 2021, foi o segundo especial de stand-up mais assistido na plataforma.
“Ter os vídeos nas plataformas é muito o que nos leva a novos públicos, e a viajar”, conta, assumindo que adora a parte de conhecer novos locais – até do ponto de vista do conteúdo. “Adapto os textos e acho por exemplo fascinante ver como reage o público do Texas às piadas do Trump”, brinca. Em Lisboa, em 2023, a adaptação correu muito bem, fora um detalhe.
“Da última vez, as datas foram gloriosas. E falei de fado, da cidade, de como não entendia gostarem de musica triste, num país tão alegre e bonito (risos), da comida. Só que alguém me falara numa maneira para descrever uma mulher atraente, ‘muita areia para a minha camioneta’. E pensei que era uma frase engraçada, mas no palco esqueci e disse a dado ponto ‘muita camioneta para a minha areia’. As pessoas riram imenso e achei mesmo que tinha sido da piada, só meses depois percebendo que era por ter dito tudo mal”.
Para o humorista, não há como fazer o mesmo espetáculo em todo o lado. “É como uma caçarola humorística: há uma base, mas vou acrescentando ingredientes de cada local, como especiarias” diz. Com este lado de improviso, também não há como garantir que se acerta. “É um pouco como jazz, e às vezes falha-se uma nota, mas se reagirmos bem até isso se torna engraçado. Só temos de deixar o ego de lado”.
Há dois anos, Howard estreou-se em Lisboa por iniciativa sua, contactando promotores depois de uma conversa com um amigo que vive cá, e depois adorando cada segundo. “É um daqueles sítios que me faz pensar na sorte que tenho, por viajar pelo mundo a fazer rir”. Agora, diz-se “ansioso” para conhecer o Porto. E adianta ao JN; o próximo especial poderá ser dedicado à Europa, com cada uma das tais “especiarias” locais.