Ator celebra esta quarta-feira o 96.º aniversário no espetáculo "A ratoeira", no Coliseu do Porto. Corre a estrada com a peça biográfica "Ruy, a história devida". Diz que trabalhar é o que lhe dá vida.
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Ruy de Carvalho, o ator no ativo mais velho do Mundo, faz hoje 96 anos. Às 21 horas, no Coliseu do Porto, celebra o aniversário no palco com a peça "A ratoeira", o que, para ele, "é sempre agradável".
"No Porto, já fiz anos várias vezes a trabalhar no palco. Fiz parte do Teatro Experimental do Porto, em 1961 e 1962", recorda.
À noite, gostava de algumas surpresas, como contar com a presença dos filhos, Paula e o também ator João. "Não podem, têm a sua vida. Mas seria uma bela surpresa". Em cena, conta com a companhia do neto Henrique Carvalho, que lhe segue as pisadas.
Da Invicta guarda as melhores memórias, inclusive dos passeios "quando era pequenino". "Conheço o Porto talvez melhor do que Lisboa", orgulha-se.
Até setembro, com "A ratoeira" e a peça biográfica "Ruy, a história devida", tem mais de 30 espetáculos confirmados. Diz que "trabalhar" é o que lhe dá energia: "De vez em quando, eu não sou eu, é outra pessoa que está em mim. Portanto, isso dá-me saúde. Nós, atores, vivemos várias pessoas, não podemos espirrar, nem adormecer em cena".
A idade é uma conquista, mas o ator garante que continua "a alimentar o jovem de 18 anos" que mantém dentro de si. "Aliás, é esse que está a conversar consigo, se não o outro já estava lá em cima, na cama", afirma, bem-disposto.
Tributos "são aplausos"
Na semana passada, rodou, nos Pirenéus, o filme "Lo que queda de ti", da espanhola Gala Gracia. Interpreta "um avô doente que está numa casa de saúde". A viagem é recente e não perde a oportunidade de criticar o aeroporto de Barcelona "onde a desorganização é pior do que o de Lisboa".
Quando tem de decorar textos, Ruy de Carvalho perde "uma noite a estudar". "Não quero só dizer palavras, quero sobretudo dizer ideias", declara. Nesta fase, "faço o que querem que eu faça, com muito cuidado para não estar a estudar toda a noite", confidencia. Por isso, fazer mais novela é uma hipótese, desde que não seja protagonista. "Agora faço uma coisa pequenina, porque fisicamente a TV é muito violenta".
Em novembro, Ruy viu o filho João ser internado de urgência, na sequência de um burnout. Assustou e "continua a assustar, pois ele ainda não está muito bem de saúde". Assim reconhece o pai que, por sua vez, se assume "ótimo". "Tenho uma coluna vertebral de 40 anos. Com 96 anos, só estou um bocadinho coxo, porque tenho uma hérnia discal", acrescenta.
Convicto de que "a morte é certa", assegura não ter medo dela. Até porque "só morro quando Aquele lá de cima quiser", afirma, sublinhando que "o fim acontece quanto tiver de ser".
Em termos de legado, "se o meu trabalho serviu para alguma coisa que sigam o que eu faço, que é fazer o trabalho com amor", proclama, considerando que o futuro da representação "está muito bem entregue" às novas gerações. "O que é preciso é que a cultura em Portugal os sirva como deve ser".
Ruy de Carvalho diz que as "homenagens são aplausos", o que não lhe tem faltado. Esquiva-se quando se fala em condecorações e termina a lamentar a guerra a que a Europa assiste, após a invasão da Ucrânia, até porque viveu a Segunda Guerra Mundial. "A outra guerra deixou exemplos terríveis aos homens, que não aprenderam nada. Continuam a matar-se uns aos outros em vez de se amarem".