A peça "Sax tenor", de Roberto Vidal Bolaño, estreia quinta-feira no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, com encenação de José Martins.
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"Esta é uma peça muito comprometida com o nosso tempo. O Roberto Vidal Bolaño quis provocar, e eu espero ter correspondido à provocação do dramaturgo", explicou em entrevista José Martins.
"No texto há sobretudo um universo de sujidade. O cenário é Santiago de Compostela, à sombra da catedral, sob o olhar vigilante do apóstolo e num ambiente imundo".
O subtítulo que Bolaño deu a "Sax tenor" foi "uma desgraça suburbana improvável entre loucos, 'gangsters', chulos, mulheres da vida .
A peça, escrita em 1991, aborda o universo de um bairro onde vivem marginais, à sombra da catedral de Santiago de Compostela, na Galiza. Para o encenador o "principal desafio foi tentar corresponder à capacidade poética muito forte que Bolaño imprimiu ao que escreveu, e conseguir que isso passasse para o palco".
Pelo facto de as personagens escolhidas viverem à sombra da catedral, o texto questiona também os valores com que o Ocidente se tem norteado, "porque os habitantes daquele bairro são exemplares dessa marginalidade, dos deserdados da fortuna, daqueles que são colocados fora da história", justificou o encenador.
"Neste aspeto, Bolaño construiu uma galeria muito interessante de falhados, e que o são não por eles próprios, mas que foram colocados nessa situação", e embora essas personagens possam ser desafiantes de determinados valores.
Para José Martins, o autor espanhol "quis provocar, mas não tirar conclusões". Por isso mesmo, acrescenta, "a última fala da peça, na boca de uma das personagens é: 'odeio finais com mensagem'. Acho que a vontade de Roberto era confrontar o espetador consigo próprio. E ter prazer em poder, durante duas horas, fruir desse confronto consigo próprio".
Referindo-se ao espaço cénico, o encenador afirmou, citado pela agência Lusa, que depois de uma visita de estudo a Santiago de Compostela com o cenógrafo Rui Francisco procurou um conceito visual "que não é uma reprodução naturalista", mas a sua interpretação "do ponto de vista dos volumes, dos materiais, do som, da luz, da água, etc. O texto tem uma linguagem cinematográfica muito forte".
"Sax tenor" está em cena até ao dia 24 de maio. O elenco é constituído por João Grosso, Hugo Franco, Jorge Albuquerque, Maria Amélia Matta, Maria Jorge, Rita Figueiredo, Lita Pedreira, Bernardo Chatillon, Luís Geraldo, Lúcia Maria, Paula Mora, José Neves, Manuel Coelho e Maria Ana Filipe.
Roberto Vidal Bolaño (1950-2002) é, segundo o Teatro Nacional D. Maria II (TNDM), "um dos mais importantes dramaturgos galegos contemporâneos e foi, até à sua morte prematura, um eminente encenador e ator, pioneiro do teatro profissional galego".
A peça "Sax tenor" recebeu o Prémio Álvaro Cunqueiro de textos teatrais, para o melhor original de teatro escrito em galego em 1991.