Normalmente as bandas deixam os grandes hits para as partes finais dos concertos, é isso que acontece em quase todos os casos. Com<strong> Iggy Pop </strong>sucedeu o contrário.
Corpo do artigo
Ele decidiu arrancar com quatro maravilhosas bofetadas de uma assentada: "No fun", "I wanna be your dog" (ambas dos Stooges), "The passenger" e "Lust for life". O homem, provavelmente a mais icónica figura da história do rock, e aquela que depositou as sementes para o punk, surgiu na pinta que se lhe reconhece: tronco nu, a pontapear a atmosfera e a desferir socos no invisível. Até copos de cerveja voaram pelo ar.
E Iggy, 69 anos, desceu para junto do seu público em "Real wild child (wild one)". Ele abraçou, cumprimentou, deu mimos e voltou para o palco para revisitar os Stooges com "Search and destroy" e enquanto a multidão gritava pela sua permanência, Iggy acabou por se despedir com "Wild America".
2016/07/iggy_20160716030445
Os Massive Attack, que chegaram pouco depois, deram um concerto em tudo semelhante com os mais recentes espetáculos por cá protagonizados. Não faltou uma toada narcótica e uma enorme presença de vídeo a projetar um bombardear de mensagens compiladas de manchetes da imprensa: da futilidade do socialaite às questões mais sérias do terrorismo ou da geopolítica.
O concerto foi inteiramente condimentado pelas imagens que passavam em toda a panorâmica do palco. E não raras vezes projetavam-se mensagens mobilizadoras. "Juntos construímos um mundo mais justo", leu-se a meio de "Inertia creeps". "Estamos juntos", "Je suis Bangladesh" ou "Je suis Nice" eram outras frases projetadas.
Mesmo que não tenham trazido Tricky, mesmo que cá tenham tocado quinhentas vezes, os Massive Attack acabaram por convencer 18 mil.
2016/07/massi_20160716031701
No regresso a Portugal, os Bloc Party trouxeram na bagagem disco novo, "Hymns", editado no início deste ano, e nova formação. O vocalista Kele Okereke e o guitarrista Russell Lissack são os únicos membros que permanecem da formação original, tendo Justin Harris e Louise Bartle assumido posição no baixo e na bateria, respetivamente.
"Only he can heal me", do novo trabalho, deu o mote para cerca de uma hora de espetáculo, seguindo-se a sónica "Hunting for witches", de "A weekend in the city" (2007). O público foi reagindo amiúde, com maior ênfase para as canções de registos anteriores.
"Banquet", hino maior da banda que remonta a "Silent alarm", disco de debute dos britânicos, foi a única que conseguiu pôr a plateia em verdadeira sintonia com a banda. "One more chance" permitiu revisitar "Intimacy" (2008) e com os seus teclados a brilhar conseguiu levar à dança o público do Meo Arena. Terão sido, muito provavelmente, dois dos momentos mais inspirados de um concerto competente mas sem grande chama.
O espírito incendiário encontrava-se a uns metros dali, no palco Antena 3, onde o rock dos barcelenses Glockenwise foi digno de mosh e de uma onda de entusiasmo que até levou a que um fã se lançasse sobre a turba sem sapatos.
Os Rhye, dupla canadiana-dinamarquesa sedeada em Los Angeles, trouxeram o seu bem-sucedido disco de estreia, "Woman" (2013), que seduziu a plateia com as suas canções downtempo coroadas pela voz de Milosh. Em palco, fazem-se acompanhar por uma banda - com violinos, trombone, bateria e teclas -, matizando as canções com um tom mais orgânico. O burburinho que se vai tornando costumeiro durante os concertos foi um entreve à plena fruição do espetáculo, mas o frenesim foi cessando à medida que o concerto avançava.
5288106
Mesmo com Iggy Pop a começar no Meo Arena, foram muitos os que preferiram escutar "The fall" ou "Open" num ambiente que, por momentos, até pareceu intimista.
Perante a aparição do ícone do rock, seria de prever que os Capitão Fausto, escalados à mesma hora no palco Antena 3, não gozassem de grande audiência. Mas a banda é um fenómeno de sucesso no panorama musical português e tinha uma plateia composta em seu redor para ouvir as canções do mais recente "Capitão Fausto têm os dias contados" ou dos anteriores "Pesar o sol" e "Gazela".
O orgulho no Euro 2016 continua a vibrar em cada esquina do festival, sendo possível avistar camisolas do Éder ou começar a ouvir cânticos futebolísticos nos momentos mais inusitados. Durante o concerto dos Capitão Fausto, uma pequena grupeta começou a entoar o novo hino "E foi o Éder que os f...", contagiando toda a plateia. Até os músicos entraram na onda, aproveitando a distração para resolverem um problema técnico.
A encerrar o palco EDP, Mac DeMarco era a estrela que reunia em seu redor uma jovem horda de fãs, que entrou em delírio quando o viu entrar em palco com os técnicos, cigarro ao canto da boca e boné, para arrumar os instrumentos. O músico canadiano trouxe consigo "Salad days" e deliciou os fãs com o seu rock efusivo e algumas piruetas instrumentais.
Segundo dia de Super Bock Super Rock arranca em português
O arranque do segundo dia foi marcado por um estupendo concerto dos Pás de Problème, no palco instalado debaixo da pala do Pavilhão de Portugal. A banda lisboeta é uma avassaladora locomotiva de punk cigano, uma espécie de colisão de Gogol Bordello com Bregovic, Mano Negra e até Mr. Bungle. Tudo movido a uma inflamada secção de metais, um violino flamejante e um cantor anfetaminado.
5285507
Apesar do calor tórrido, o público respondeu em festa ao constante chamamento do vocalista e não se inibiu de se envolver em danças entusiasmadas. No lado oposto do recinto, no palco Antena 3, o quarteto lisboeta Basset Hounds desfiou de forma enérgica o seu rock 'n' roll de guitarras estridentes e atravessado por diversas influências. A banda, cujo nome é inspirado na famosa raça de cães franceses, mostrou toda a sua "raça" para uma plateia que se foi compondo em frente ao palco e nas escadarias de acesso ao Meo Arena.
Na plateia, os Capitão Fausto - que atuaram no mesmo palco às 22 horas - chamavam a atenção do público - em especial o feminino -, que lançava olhares curiosos e pedia umas fotos com o grupo.