Museu de Serralves inaugura, na quinta-feira, a exposição "Álvaro Siza-In/disciplina". Mostra percorre a obra e a vida de um homem inquieto.
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"Na atividade de um arquiteto, ou de um escritor, há uma parte de racionalidade, de estudo, aquilo a que podemos chamar o "métier". Mas, sem a parte da indisciplina e da imaginação, a obra sai frouxa." Foi com estas palavras que Siza Vieira rematou, ontem à tarde, a sua visita a "Álvaro Siza - In/disciplina", exposição que o Museu de Serralves, no Porto, lhe dedica, por ocasião do 20.º aniversário da instituição, e que será inaugurada amanhã, podendo ser vista até 2 de fevereiro de 2020.
O ponto de partida da mostra, que tem curadoria de Nuno Grande e Carles Muro, foi uma nota escrita pelo arquiteto num dos seus cadernos de desenho: "Nome: Álvaro Siza/ Disciplina: tão pouca quanto possível." Mas também um desenho, realizado por Siza em Berlim, nos anos 1980, em que surge uma figura humana decomposta. O que se relaciona com a sua atividade: "As cidades são feitas de fragmentos de várias épocas e estilos. O trabalho do arquiteto é tentar criar relações entre eles."
30 projetos desde 1950
Os materiais em exibição, que incluem maquetas, esquissos, apontamentos, fotografias e até listas de compras, foram recolhidos no arquivo de Serralves, da Fundação Gulbenkian e do Canadian Centre for Architecture, além de haver outros contributos particulares e objetos do acervo pessoal de Siza.
Organizada em quatro áreas - projetos, percursos, testemunhos e registos - a mostra dá conta do trajeto singular do arquiteto que arrecadou o Prémio Pritzker em 1992. Dispostos em cima de mesas que evocam as "mesas invertidas" que o arquiteto espalhou pelo teto de museu, para servirem de suporte à iluminação, os materiais revelam não só o processo de trabalho em 30 projetos (nem todos construídos), dos anos 1950 à atualidade, mas também a personalidade do homem, um curioso compulsivo, que desenha objetos, paisagens e figuras com que se vai cruzando. Por vezes combina mesmo os estudos com as distrações, surgindo folhas onde convivem detalhes de edifícios e dados técnicos com bonecos e desenhos abstratos, criando-se uma espécie de banda desenhada.
Às maquetas de importantes edifícios construídos em Portugal e no estrangeiro, como o Pavilhão de Portugal, a reabilitação do Chiado, o "Bonjour Tristesse", em Berlim, ou a Fundação Iberê Camargo, no Brasil, além do próprio Museu de Serralves, seguem-se testemunhos em vídeo de outros arquitetos, que falam do homem e da obra. Desenhos feitos em viagens pelo mundo e o registo fotográfico dos seus edifícios, realizado por importantes publicações de arquitetura, fecham a exposição, que não trouxe saudades ao arquiteto: "Ainda tenho muitos projetos para me entreter."