Braga é a capital da eletrónica de vanguarda até domingo. Concertos, oficinas e conversas espalham-se pela urbe.
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A eletrónica mais experimental e ousada vai espalhar-se por Braga entre hoje e domingo, cumprindo a 12.ª edição do Semibreve, que apresenta 17 espetáculos, oficinas, conversas e instalações sonoras distribuídos por locais como Theatro Circo (epicentro do festival), gnration, Mosteiro de Tibães ou a Capela Imaculada do Seminário Menor.
Promover "o encontro entre a música exploratória e locais de interesse patrimonial numa cidade periférica no contexto europeu" é o que move os fundadores, diz Luís Fernandes, programador do Semibreve desde 2011. "Nada de essencial mudou relativamente aos nossos propósitos iniciais, que foram sempre enfatizar uma experiência de contacto próximo, de intimidade, para um público de melómanos".
O que mudou, diz o responsável, foi a relação dos organizadores com o festival: "A primeira edição era para ter sido um ato isolado, não imaginávamos que houvesse continuação. Mas o sucesso do Semibreve obrigou-nos a alterar a postura, houve um processo de aprendizagem, depurámos uma série de aspetos e, sobretudo, alargámos o raio de ação do evento, que inicialmente acontecia apenas no Theatro Circo".
40% de estrangeiros
Com todos os bilhetes e passes diários esgotados, o que corresponde a um total de cerca de mil pessoas por dia, 40% estrangeiras, oriundas, na maioria, do Reino Unido, Alemanha e Espanha, o festival ganhou expressão nacional e internacional e provou ser possível algo que era impensável há 20 anos. Diz Luís Fernandes: "Trazer as novas sonoridades da eletrónica a sítios como o Santuário do Bom Jesus ou o Mosteiro de Tibães".
Preenchido por nomes consagrados e emergentes das áreas mais experimentais da música de dança e ambiental, as duas linhas principais da eletrónica, cuja remota ascendência são as escolas de Düsseldorf e de Berlim dos anos 1970, o cartaz do Semibreve inclui ainda a celebração dos dez anos da Príncipe Discos, editora lisboeta que é a principal exportadora da música suburbana portuguesa; oficinas e conversas com responsáveis da Shelter Press, selo internacional de referência no campo das eletrónicas de vanguarda; ou a instalação interativa Patch Point Synthesizer Lounge, patente no gnration.
Haverá igualmente estreias mundiais, como a apresentação do disco "Hello death", do sueco Malcolm Pardon, a metade contemplativa do duo Roll The Dice. E encomendas do Semibreve, como o encontro do coletivo portuense Drumming GP com o veterano da eletrónica experimental e "glitch" Burnt Friedmann, espetáculo escolhido para encerrar o festival, no domingo, às 18.40 horas.
Agenda
David Maranha
Theatro Circo, hoje, meia-noite
Nome inescapável da música experimental portuguesa, Maranha bebe do minimalismo radical norte-americano, conjugando padrões sonoros com órgãos e violino.
Alva Noto
Theatro Circo, sábado, 22.50 horas
Vogando entre o tecno e a música ambiental, construiu uma reputação lendária, colaborando com Blixa Bargeld e Ryuichi Sakamoto.
Jan Jelinek
Salão da Reitoria, domingo, 16 horas
Com uma carreira desdobrada por múltiplas personas, Jelinek desenha as suas propostas no encontro do jazz, micro-house e música concreta.
Caterina Barbieri
Theatro Circo, domingo, 17.15 horas
Nome em ascensão na música exploratória, a italiana apresenta "Spirit exit", feito de faixas com estruturas complexas, mas habitadas por uma pulsão sanguínea.