<p>O carro pode descer até ao largo perto da aldeia. Mas há quem opte por deixá-lo no alto da serra de S. Macário para fazer a pé o percurso até à Pena. O "GPS" dos oito habitantes calcula a caminhada em dois quilómetros até ao casario negro aninhado no fundo do vale.</p>
Corpo do artigo
A estrada íngreme e serpenteada revela e amplia, a cada curva, o aglomerado coberto de xisto. Que visto do alto, não passa de um minúsculo ponto negro na paisagem.
À medida que a Pena se aproxima, por entre frondosa vegetação, o latir de cães, em curiosa desgarrada, anuncia a chegada de visitantes.
"Não preciso de sair de casa para saber quem entra e sai da aldeia. Os animais dão o sinal ainda as pessoas vêm longe", conta Agostinho Martins, de 84 anos, o mais velho habitante da Pena. Que reclama para si, sem falsas modéstias, a conquista do acesso agora alcatroado. "Fui eu que puxei por isto", diz orgulhoso.
Duas famílias, num total de oito habitantes, povoam o lugar. Um território minúsculo, que mantém intacta a estrutura das habitações feitas e cobertas de xisto.
Por entre ramadas do morangueiro que ainda se pode provar na adega, tirado directamente do pipo, podem os visitantes saborear compotas, enchidos e pratos típicos, feitos na hora, a partir de produtos biológicos. "Se for cabrito, é melhor fazer a encomenda de véspera", avisa Ana, a neta de Agostinho Martins.
As três horas de sol contadas no Inverno, aumentam nos dias quentes de Verão. Tempo de sobra para quem chega conhecer a aldeia sem pressas. E ouvir algumas das lendas que chegaram por via oral até aos dia de hoje. A do "morto que matou o vivo" é a mais conhecida.
"Agora temos cemitério. Mas antes, quando morria alguém, a urna era levada em ombros, por entre escarpas, até Covas do Rio. Num desses enterros, o caixão caiu e matou um dos homens que o transportava. Daí nasceu a lenda", conta Agostinho Martins.
Quem chega para ficar, pode caminhar por trilhos ancestrais, percorrer os campos cultivados e tomar banhos na ribeira da Pena. Ou entabular conversa com Deolinda Cruz, mulher de Agostinho, sempre pronta para conversar.