Festival com músicos do Norte continua no Super Bock Arena, com atuações de Ecos da Cave, Turbojunkie, Marta Ren e Zen.
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Foi o classicismo a marcar a primeira noite do festival Rock à Moda do Porto, que entre esta sexta-feira e sábado, na Super Bock Arena, no Porto, junta glórias de diferentes épocas da música feita no Norte do País. Sérgio Godinho esteve no centro, em mais uma etapa da digressão “Liberdade 25”, que assinala os 50 anos da revolução de Abril. Rodeado pela banda Os Assessores, aviou, com a voz intocada, temas que estão à cabeceira de várias gerações de portugueses, como “Maré alta”, “Balada da Rita”, “Coro das velhas” ou “A democracia”. E deixou avisos: “A liberdade continua a passar por aqui, mas é um bem perecível.”
Na abertura do festival, perante uma sala ainda pouco habitada, estiveram os Plaza, trio de pop eletrónica formado por Quico Serrano (teclas e maquinaria, longa cabeleira loira) e pelos irmãos Paulo e Simão Praça (voz e guitarra, ausência de cabelo). Os irmãos voltarão a atuar hoje, reanimando o projeto rock dos anos 1990 Turbojunkie. Enquanto Plaza, celebraram os 20 anos de “Meeting point”, o seu álbum de estreia, mas passaram também por temas orelhudos do segundo registo, “All together” (2014), como “High on stereo” ou “Real love”. Desenvolvem um som que tanto se embrullha na eletrónica como irrompe de forma descarnada em solos de guitarra. Têm letras que se agarram e uma atitude madura, profissional, comunicativa. Deram um excelente tiro de partida ao evento, que prosseguiu, mais tarde, com prestações de Pluto e Blind Zero.
Pluto e Blind Zero fecharam com estrépito a primeira noite
A segunda metade da primeira noite do Rock à Moda do Porto arrancou com um novo tema de Pluto, a banda de Manel Cruz e Peixe (fundadores de Ornatos Violeta), além de Ruca e Eduardo Silva. “Túnel” abriu caminho para a revisão do único álbum do grupo, “Bom dia”, de 2004, a que se juntaram mais duas canções inéditas: “Quadrado” e “A minha vez de construir”, que fala sobre as lições do passado na construção do futuro, explicou o vocalista. Horas antes, Manel Cruz disse ao JN que os Pluto irão continuar a lançar temas individualmente até haver material para um novo disco. “Nunca interrompemos a atividade verdadeiramente. Vamos compondo.”
Número com mais músculo que Ornatos Violeta, e também com mais blues e escuridão, revelou sobretudo a cumplicidade entre os músicos e a desenvoltura da sua arte. São muitos anos e projetos para Manel Cruz e Peixe, que se apresentam como equipa afinada, que “joga de olhos fechados”. O que necessariamente passa para um público também familiarizado com os seus trajetos e que reconhece o alto nível da exibição. O momento mais pesado e dramático da noite foi trazido pelos Blind Zero, que celebram 30 anos de atividade. Precursora do grunge em Portugal, a banda de Miguel Guedes fez um ‘tour d’horizon’ pela discografia iniciada, em 1995, pelo EP “Recognize”, cuja canção homónima, explicou o vocalista, começou a brotar perto do local onde atuavam, os jardins do Palácio de Cristal.
Foi na transição entre esse tema, onde ecoa ainda o registo à Eddie Vedder e a pulsão mais desenfreada do grupo, e o ambiente denso e problemático de “Running back to you”, extraído do recente “Courage and doom”, que se tornou mais nítida a evolução da música dos Blind Zero. A viagem percorreu ainda discos como “Often trees” (2017), “Luna park” (2010) ou “The night before and a new day” (2005), serpenteando entre toadas mais abrasivas e baladas de recolhimento.