Violência psicológica inaudita, para lá da física, marca a série da Netflix "A rapariga da cabana", uma adaptação do romance de Romy Hausmann.
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"A rapariga da cabana" é mais um exemplo da relação raramente fácil entre a escrita e a imagem, pois é baseado no romance homónimo de Romy Hausmann, escritora alemã nascida em 1981.
No pequeno ecrã, após um intrigante preâmbulo, a narrativa começa quando uma jovem mulher em camisa de noite é vítima de atropelamento e fuga, numa pequena estrada que passa pelo meio de uma floresta. Com ela, está uma adolescente, Hannah, numa credível interpretação de Naila Schuberth, cujo comportamento associal e a forma como papagueia conhecimentos de diversa ordem, a par do desconhecimento evidente de locais e formas de estar básicos, vai surpreender enfermeiros e psicólogos.
Para além desse singular comportamento as evidentes marcas de maus tratos e violação de Lena, a mulher a quem Kim Riedle dá vida, vão chamar a atenção das autoridades, que descobrirão na cabana onde vivia outra criança mais nova, o pequeno Jonathan (Sammy Schrein). A investigação vai relacionar Hannah com um rapto que teve lugar 13 anos antes e fazer entrar em campo Gerd (Hans Löw) o detective que o investigou inicialmente e nunca desistiu de descobrir a verdade, apesar das autoridades terem encerrado o caso, e também Matthias e Julika (Justus von Dohnányi e Julika Jenkins ), pais da jovem raptada, que entretanto tinham refeito a vida e voltam a cair no pesadelo de não saberem o que aconteceu.
O elenco principal ficará completo com a inspectora Aida Kurt (Haley Louise Jones), que se empenhará profundamente num caso que vai revelar contornos inimagináveis e um tipo de violência psicológica inaudito.
Este thriller psicológico alemão, de apenas 6 episódios, uma versão doentia do estereótipo "o amor e uma cabana", tem como um dos principais trunfos o modo como consegue transmitir para o espectador grande parte dessa tensão, graças ao ritmo deliberadamente lento e à montagem que liberta aos poucos a informação sobre o inferno vivido por Lena, Hannah e Jonathan, mas mantendo o suspense porque o que é mostrado, muitas vezes não vai corresponder ao que o espectador imagina e só o final, trágico mas também libertador, trará as respostas a uma história que raramente se limita aos seus pressupostos de base.