Museu do Porto acolhe primeira exposição exaustiva da Coleção BPP e muda as suas paredes para roxo e verde durante a exposição "A quem possa interessar: uma coleção, uma carta". Inaugura esta quarta-feita e fica patente até outubro.
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"A quem possa interessar: uma coleção uma carta" é a nova exposição patente no Museu de Serralves, no Porto, e que a partir desta quarta-feira resgata 76 obras da coleção BPP (Banco Privado Português) e outras 35 das 65 que estão em depósito em Serralves.
A Coleção BPP, de que Serralves faz agora a primeira exposição exaustiva, passou para a tutela do Estado, por via de uma troca de créditos, de 34,86 milhões de euros, junto da comissão liquidatária do BPP - do banqueiro João Rendeiro, entretanto falecido - que faliu.
Philippe Vergne, diretor do Museu de Serralves, destacou o papel dos seus antecessores: Vicente Todolí e João Fernandes na comissão de compras da Coleção BPP. Este acervo terá o seu depósito em Serralves, facto anunciado em novembro pelo Governo. "Isto permitirá a Serralves ter uma estrutura como um tecido em que se vão juntando várias fibras", elucidou Vergne.
Ricardo Nicolau e Isabel Braga, curadores da mostra, decidiram transformar a primeira sala da exposição numa espécie de salão do século XIX, "abdicando da neutralidade do branco e pintando as paredes de roxo e verde", explicou Nicolau .
Casamentos improváveis
Há 111 obras e estão colocadas em diálogo. Logo a abrir vemos os conjuntos de Sol LeWitt dedicado à abstração, ao minimalismo e à arte conceptual - sobre esta, LeWitt escreveu "uma espécie de Bíblia", em 1968, onde declarava que "o artista não tinha de fazer a obra, poderia ter uma ideia e delegar". Seguindo esta lógica foram dispostos ao seu lado trabalhos de Lawrence Weiner, um artista que tomou a sua máxima à letra.
Outro dos casamentos temáticos é o do pintor "impessoal" Pedro Casqueiro, com Ana Jota, "uma apropriadora que trouxe as artes decorativas para o centro das artes visuais", contou o curador Ricardo Nicolau.
Helena Almeida & Lourdes Castro
As destacadas artistas portuguesas Lourdes Castro e Helena Almeida estão acopladas. Se a primeira fazia das suas sombras em plexiglas presença e ausência, a segunda trabalha nas suas autorrepresentações a expansão do seu corpo, tornando-se parte das paisagens que cria.
Mas há várias outras conversas para os visitantes: Marlene Dumas, artista com uma forte identidade que aborda temáticas como a identidade, sexo e violência com muito humor, tem as suas criações vinculadas a Mike Kelley, cujas obras sublinham a hipocrisia dos bons costumes, com desenhos aparentemente pueris.
Fora do "Salão" e nas proximidades do auditório de Serralves estão expostas fotografias de grande formato que remetem para as artes performativas e para o cinema, "numa alusão às atividades que aqui decorrem" elucidou Isabel Braga.
Há o trabalho de João Penalva, onde é exultado "o culto do corpo como uma ideia de fascismo", há a cabina de projeção de João Paulo Serafim e também a fotografia de João Tabarra sobre o "perfeito anti-herói".
A exposição "A quem possa interessar: uma coleção uma carta" está patente até ao dia 9 de outubro.