Quarta e última temporada de “Sex Education” estreou na Netflix em setembro.
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As poucas aulas de Educação Sexual que tive no Secundário deram-me pouco esclarecimento e vários medos. Muito restrita aos domínios da reprodução, métodos contracetivos, gravidezes indesejadas e infeções sexualmente transmissíveis, a disciplina resumiu-se a um conjunto de advertências, quase sempre numa perspetiva falocêntrica, entre bananas, preservativos, poucas perguntas e muitos risos.
A série “Sex education”, estreada na plataforma de streaming em 2019 e vencedora de um Emmy de Melhor Série de Comédia em 2022, é o contrário de tudo isso. Dá lições sobre sexualidade, com pedagogia, amplitude e graça, enquanto faz serviço público, desconstruindo tabus, desfazendo preconceitos e trazendo para a mesa questões como consentimento, abuso sexual, prazer feminino, orientações sexuais e identidades de género.
Otis está no centro da história. É um adolescente de 16 anos, filho de dois terapeutas sexuais (um pai pouco presente e uma mãe que o embaraça) e uma ansiedade extrema que é sintoma dos constrangimentos associados à vida sexual, que vai descobrindo ao longo de quatro temporadas – a última estreada em setembro.
Desafiado pela rebelde Maeve, por quem se apaixona e com quem cria amizade, Otis abre uma espécie de consultório sexual clandestino na escola, partilhando com os colegas – igualmente perdidos e à descoberta do corpo e do sexo – os conhecimentos teóricos que foi ganhando ao ouvir, às escondidas, as consultas da mãe.
A ideia é ajudá-los a ultrapassarem problemas sexuais e afetivos, enquanto fazem algum dinheiro pelo caminho e tentam fintar acidentes de percurso, com os quais vão aprendendo. Com um elenco diverso e inclusivo, em que cada personagem representa uma insegurança, um preconceito ou um problema, a série explora os condicionamentos da religião à vivência de uma sexualidade livre, a pressão familiar para se ser de determinado modo e o capacitismo de que são vítima jovens com deficiência. Bem mais pedagógico do que pôr um preservativo numa banana com os colegas a rir. Nota 20.