Estreia esta quinta-feira uma das sensações da Berlinale, “Amor em Sangue”, de Rose Glass, com Kristen Stewart em destaque.
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Se na vida tudo se transforma, o cinema é um bom exemplo da vida. Martin Scorsese disse-o recentemente em Berlim, onde recebeu um Urso de Ouro honorário, e muitos dos filmes que se viram o festival, um dos mais importantes do mundo, dificilmente seriam aceitáveis duas ou três décadas atrás, por questões de produção, cinematográficas ou mesmo morais.
Um caso típico, que chega às nossas salas apenas duas semanas após o encerramento da Berlinale, é “Amor em Sangue”, uma das obras mais radicais que se viram na capital alemã, produção da A24, responsável pelo Óscar do ano passado, “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, filmando sem grande limites o sexo entre duas mulheres, antes de fazer o sangue jorrar do ecrã, num festim de horror e fantasia que vai agradar decerto aos fãs do cinema deste género, na realidade um dos mais criativos e irreverentes do cinema contemporâneo.
“Amor em Sangue” é a segunda longa-metragem da britânica Rose Glass, cujo primeiro filme também passou por cá. Tratava-se de “Saint Maud”, a história de uma freira tão devota que não hesita em ir até às últimas consequências para salvar a alma de uma sua paciente.
Agora, estamos de início num registo mais realista. A caminho de Las Vegas para participar num concurso de culturismo, uma jovem atleta treina-se no ginásio de uma pequena localidade do Novo México, iniciando uma intensa relação amorosa com a responsável pelo local.
Kristen Stewart e Katy O’Brian protagonizam algumas cenas de sexo, embora seja o sangue o que começa a sobressair nesta história de ciúme, possessão e relações familiares mal resolvidas, num crescendo que culmina muito para lá do que se poderia imaginar.
O final do filme é aliás de todo surpreendente, lembrando-nos que estamos num filme, domínio onde a fantasia tem lugar e nada é impossível. “Amor em Sangue” é um filme noir feminino e feminista para os nossos dias, onde o vermelho é afinal o tom dominante.
É para quem gosta de emoções fortes e não tem preconceitos. Kristen Stewart, além de dar asas ao seu espírito queer, dá também um sinal de coragem ao apostar num filme que não é para todos os gostos. Mas que será difícil de esquecer para quem ousar entrar na sala.
"Amor em Sangue"
Rose Glass
com Kristen Stewart, Katy O'Brian, Ed Harris