Ator bahamiano-americano foi um ativista pela igualdade racial e teve um papel pioneiro no cinema americano dos anos 1950 e 60.
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Foi o primeiro negro a vencer o Oscar de Melhor Ator, em 1963, mas a importância e o papel de Sidney Poitier na luta pelos direitos civis, nomeadamente pela igualdade racial, vai muito mais longe do que esse momento simbólico na história de uma América - e não só - onde há ainda muito a fazer nesse capítulo.
Eddie Murphy, Halle Berry, Denzel Washington e Spike Lee seguiram-lhe os passos e seguramente que muito lhe devem, na sua coragem e no posicionamento social e político, mas acontecimentos como a morte brutal de George Floyd mostram que vão ser precisos ainda muitos Sidney Poitier para que as pessoas sejam olhadas da mesma forma, independentemente da raça, religião, sexo ou orientação sexual.
Mas é inegável que Sidney Poitier quebrou muitas barreiras. Já tinha sido o primeiro da sua raça a ser nomeado para o Oscar de Melhor Ator em 1958, por "Os audaciosos". O filme de Stanley Kramer tinha uma história paradigmática de uma década em que a questão racial começava a ser amplamente discutida: dois evadidos de uma prisão, ainda acorrentados, tinham de lutar em conjunto para escapar. Um branco, Tony Curtis, o outro negro, Sidney Poitier.
Pouco depois, em 1960, foi nomeado para o Tony de Melhor Ator, pela peça da Broadway "Um cacho de uvas ao sol", de que interpretaria também, no ano seguinte, a versão para cinema. O Oscar chegaria com "Os lírios do campo", de 1963, onde interpreta um desempregado que se cruza com um grupo de freiras que o julga ser o enviado de Deus para as ajudar a construir uma capela.
Tão emblemático como estes papéis foi "Adivinha quem vem jantar", de 1967. Dirigido de novo por Kramer, o filme centra-se num casal conservador a quem a filha anuncia que vai trazer o namorado para jantar, descobrindo que o futuro genro não é branco. Nesse mesmo ano interpreta ainda dois papéis capitais na sua carreira, "O ódio que gerou o amor" e "No calor da noite".
A luta continua
A vida de Sidney Poitier esteve longe de ser fácil. Nascido a 20 de fevereiro de 1927 em Miami, onde os pais, naturais das Bahamas, estavam de visita, é precisamente para essa cidade que é enviado aos 15 anos, para viver com o irmão e escapar à delinquência.
Aos 18 parte para Nova Iorque, passa algum tempo no exército, trabalha a lavar pratos e dorme na casa de banho de uma paragem de autocarro. Decide então tentar a sua sorte no American Negro Theater. Praticamente não sabendo ler nem escrever, a sua candidatura foi-lhe recusada, mas com a determinação que emprestou a tantos papéis, trabalha intensamente e é aceite seis meses depois.
Seria durante um ensaio que um agente o descobre. Estreia-se na Broadway e pouco depois no cinema, com "Falsa acusação", realizado em 1950 por Joseph L. Mankiewicz, interpretando um médico negro que trata dois irmãos racistas. A morte de um deles desencadeia um foco de tensão racial.
"Sementes de violência" (1955), "A escrava" (1957) ou o musical "Porgy e Bess" (1959) são outros dos grandes títulos da sua filmografia, que inclui ainda uma série de obras que realizou, como a comédia de sucesso "Dois amigos em apuros", de 1980, com Gene Wilder e Richard Pryor. A última vez que o vimos no grande ecrã fora já em 1997, em "O Chacal", ao lado de Bruce Willis e Richard Gere. Sidney Poitier deixou-nos agora, mas a sua luta continua.