Sigur Rós voltam aos discos com “Átta”, um “bálsamo de unidade e harmonia”.
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Dez anos após “Kveikur”, álbum que parecia desviar-se do padrão etéreo e amável da música dos Sigur Rós, apresentando uma assertividade e escuridão invulgares, “Átta” retoma o fio de álbuns como “Takk…” (2005) ou “Ágaetis byrjun” (1999), propondo um banho de imersão ao ouvinte. Não é o mais desafiante trabalho dos islandeses, mas emana uma beleza feérica: é boreal, expansivo, flutuante. Requer múltiplas audições para se entranhar totalmente. E haverá sempre novos elementos a descobrir.
Nas palavras do vocalista, Jónsi – que volta a cantar numa língua indecifrável, entre o islandês e o idioma inventado “vonlenska”, o que nunca foi um problema: com Sigur Rós abandona-se o ‘logos’ e penetra-se em zonas de pura sensibilidade e emoção –, o álbum foi “inspirado pelo desejo de alcançar um sentimento de unidade face às circunstâncias tumultuosas do Mundo. E o baixista Georg Hólm reforça a ideia: “Sentimos o disco como um bálsamo de unidade e harmonia.”
Nestes dez anos de hiato, a banda concentrou-se em projetos paralelos, criou bandas sonoras e embrenhou-se em longas digressões. Quando começou a trabalhar em “Átta”, intrometeu-se o tumulto do Mundo: uma pandemia. Houve ainda a saída do baterista Orri Páll Dýrason, envolvido num caso de assédio sexual – e uma das características de “Átta” é a quase ausência de percussão –, e o regresso do teclista Kjartan Sveinsson, que se afastara do grupo em 2012.
Com um som amplificado e enriquecido pela participação da Orquestra Contemporânea de Londres, conduzida pelo maestro Robert Ames, as canções de “Átta” parecem ligadas por fios invisíveis, ou por nuvens, não havendo separação clara entre elas. O que contribui para a unidade desejada, mas cria uma homogeneidade algo fastidiosa. Ainda assim, assoma um piano entre brumas em “Fall” e o Mundo reduz-se a um suspiro em “Andrá”. O tema final, “8”, é um épico de dez minutos que resume o espírito do disco: uma forma ampla, quase sem contornos, que convida à contemplação e ao encantamento.
Sigur Rós
“Átta”
2023