JN assistiu aos ensaios da banda pop de David Fonseca, que festeja 30 anos com concertos em Leiria, Porto e Lisboa: “As pessoas têm vontade de nos ver, de recordar épocas boas”.
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“Silence 4 é uma banda que já não existe, mas existe um certo imaginário coletivo português de quando éramos muito miúdos”, diz David Fonseca, de 51 anos. “E sinto que é como se pudéssemos agora revisitar esse sítio, durante um bocadinho”, explica o vocalista da banda pop nascida em 1995. Ter vários concertos esgotados é um sinal inequívoco: o regresso da banda também era desejado pelo público.
“Tínhamos vontade de estar juntos e, pelos vistos, as pessoas também têm vontade de nos ver e de recordar épocas boas”, comenta Sofia Lisboa, também vocalista, sorridente. “Vamos descer a 1998 e a 2000, e tocar o primeiro disco inteiro, ou quase inteiro, pelo que vai ser uma boa altura para recordar esses momentos”, acrescenta David.
O regresso aos palcos dos Silence 4 foi anunciado a 1 de outubro e, desde aí, as datas dos concertos em Leiria (13 e 14 de junho, Teatro Lúcio da Silva), Porto (15 e 16 de novembro, Super Bock Arena) e Lisboa (13 de dezembro, Meo Arena) multiplicam-se. A banda, que poderá atuar ainda nas ilhas e no Algarve, está a celebrar 30 anos – e os ensaios, que o JN foi espreitar à Black Box, já decorrem desde janeiro.
Alcançar a verdadeira osmose com os fãs é a expectativa dos Silence 4 – querem que o público seja também um espetáculo. “Acho que as pessoas que nos vão ver conhecem as músicas todas ou quase todas”, observa David. “As pessoas são mais um elemento da banda, sabem tudo na pontinha da língua e, às vezes, dá-nos jeito; se nos esquecermos, passamos-lhes o microfone”, diz Sofia a piscar o olho.
“As músicas descrevem muito a adolescência. As dúvidas, a tristeza, a melancolia”, aponta a vocalista. Mas, 30 anos depois, David Fonseca diz que já não se escreve sobre o amor perdido quando se compõe uma canção. “É mais sobre uma hipoteca perdida”, responde Sofia. “Uma eleição esmifrada”, contrapõe David. “Um cancro marado”, remata a vocalista, sobrevivente de um linfoma.
Ameaças de morte e tudo
De volta aos anos 1990, a banda recorda peripécias desse início. “O público do Porto, e daí para cima, é muito reativo. Fui muitas vezes ameaçada de morte por raparigas que achavam que eu era namorada do David, não conseguiam separar a personagem da pessoa”, conta Sofia, a quem chegaram, no meio da histeria, a “arrancar cabelos”. A solução foi contratar seguranças.
“Em 1998, demos 90 a 100 concertos em sítios onde não imaginámos que era possível tocar. No mesmo dia, chegámos a tocar num sítio para cinco mil pessoas, e numa discoteca para 150”, recorda David. “Lembro-me do palco de uma discoteca, onde estava a tocar bateria, abanar por todo o lado”, acrescenta António Pedrosa. “E de cantar com a guitarra na testa”, garante Sofia. “E de entrar no palco e nem conseguir ver onde estava o microfone”, lembra David.
Mas houve outros momentos inesquecíveis para os Silence 4, como um espetáculo num jardim da Amadora em que o sistema de rega começou a funcionar durante a atuação – e as pessoas fugiram. O guitarrista e baixista Rui Costa temeu mesmo ser eletrocutado. “E depois disseram que foi um partido da Oposição, fizeram de propósito para lixar um candidato qualquer. O jornal “24 Horas”, já extinto, ainda nos perguntou o que é que achávamos”, conta David.
“E o concerto na Guarda, em que o David entra e diz: ‘boa noite, Braga’? Fomos quase espancados. Eu é que salvei a situação: vesti uma t-shirt a dizer ‘Guarda’”, recorda Sofia. Depois disso, antes de entrar em palco, Rui Costa diz sempre ao vocalista para não se esquecer de dizer ‘boa noite, Braga!’. Já David conta que o guitarrista “uma vez nem se apercebeu de uma ambulância a andar no meio do público”. Como? “Pois… ele toca de olhos fechados” – e os quatro Silence 4 desatam a rir.
