Banda de Jim Kerr viveu da energia de uma baterista e do amparo vocal de uma cantora. Público também não deixou escoceses afundarem-se. Festival termina este sábado com alguém que não precisa de ajudas, Iggy Pop, e com a teatralidade gótica dos Bauhaus
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Salvo pelas mulheres, poder-se-ia dizer sobre o concerto dos Simple Minds na segunda noite de Vilar de Mouros. Jim Kerr, que surgiu em palco de echarpe e óculos espelhados, foi logo avisando: "As minhas pernas estão todas partidas, não vou poder dançar. Mas vou cantar com todo o coração." O outrora esguio e jovial vocalista, pôs sem dúvida coração naquilo que fez, mas a voz não andou longe do estado das pernas: hesitante, imprecisa e a mancar nos momentos de maior exigência, como na balada "Belfast child". Quer isto dizer que o concerto foi mau? Nem por isso, porque houve mulheres e um público generoso, que amparou Kerr e lhe tolerou todas as falhas.
O concerto encaminhava-se para um longo bocejo, com uma primeira parte feita de temas amplamente desconhecidos pela maior parte do público - os hits mais recentes de uma digressão intitulada "40 Years of Hits", que teve o seu desfecho no festival do Alto Minho. Mas o crescente protagonismo da baterista Cherisse Osei, que teve o seu píncaro num longo solo em "New gold dream", e o vozeirão de Sarah Brown, que se integrou no concerto a partir de "Mandela day", sublimaram todas as limitações do sexagenário Kerr.
E depois houve o público de Vilar de Mouros, que pareceu aguardar pacientemente pelos hits mais marcantes dos escoceses - "Don"t you (forget about me)" e "Alive and Kicking" - para finalmente se manifestar. Fê-lo com telemóveis em riste (até que enfim alguma coisa para registar, podia ser a legenda para aquelas imagens do encore) e um magistral apoio nos refrães, o que trouxe sossego e felicidade a Jim Kerr. E a sensação de que o espetáculo se salvou.
Ainda na noite de sexta-feira, ouviram-se as baladas folk dos portugueses Non Talkers, o rap metal estrondoso dos Clawfinger (provavelmente o concerto da noite), o rock brumoso dos Black Rebel Motorcycle Club e o punk lusitano dos Tara Perdida.
Vilar de Mouros termina hoje com um friso de portugueses - The Mirandas, Blind Zero e The Legendary Tigerman -, o quarteto que inventou o rock gótico - Bauhaus -, e a iguana de 75 anos - Iggy Pop -, que pomos aqui o pescoço em como terá o quíntuplo da energia de Jim Kerr.