Num universo ficcional onde a tecnologia e a melancolia se misturam, o coreógrafo Marco da Silva Ferreira e o realizador de cinema Jorge Jácome usam memórias e gravações para guiar a representação dos corpos em Siri. A peça tem estreia absoluta a 30 de abril, no auditório do Campo Alegre, no Porto
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A convergência do meio cinematográfico com a dança performativa não é uma novidade nos trabalhos desta dupla, tendo em conta que esta experiência começou em 2015 com a peça Íris. Seis anos depois, Siri tem uma equipa maior (para além de Marco da Silva Ferreira, são intérpretes Alina Ruiz, Éric Santos e Mélanie Ferreira) e uma evolução de conceitos que coloca o espectador num qualquer ano futurista onde o humano e o tecnológico se confundem.
Os quatro intérpretes não são necessariamente humanos pois "não têm a naturalidade que aparenta ser uma pessoa em cena a viver aquilo que está a sentir", resume Marco da Silva Ferreira. Já os 12 robôs de palco parecem procurar a evolução para a condição humana recorrendo à informação recolhida ao longo dos anos para mimetizar o comportamento das pessoas.
Nesta circunstância de plena azáfama tecnológica denota-se a evolução de Siri face a Íris, uma vez que os movimentos dos corpos são conduzidos pelas representações cinematográficas da tela. Ou seja, dilui-se a diferença entre as duas artes - cinema e dança - que têm guiado os criadores nos últimos anos.
Apesar disso, há semelhanças de conceitos na medida em que os dois trabalhos abordam a temporalidade cénica e o discurso da memória, esta muitas vezes de forma implícita, representada através dos intérpretes ciborgues que Marco da Silva Ferreira classifica como "acumuladores arqueológicos de memória", mas também através dos robôs.
"Do ponto de vista do conteúdo, para nós era muito importante que os dois universos, o do cinema e o das artes performativas, estivessem mais presentes no trabalho e não fosse um trabalho tão académico como o Íris", acrescenta o coreógrafo.
Recorde-se que Íris nasceu com o objetivo de construir um estudo entre a coreografia e o cinema, onde o produto final é o próprio processo, com o cineasta e o coreógrafo a assumirem o papel de intérprete um do outro. Siri é a evolução natural dessa assunção.
"Gosto de pensar esta peça como uma peça de dança cinematográfica, em que removemos uma ideia mais consciente da área em que trabalhamos e vamos de forma subtil difundindo estas áreas", completa o realizador.
Siri é uma coprodução da associação Pensamento Avulso, do Teatro Municipal do Porto, do Centro Coreográfico Nacional de Caen/Baixa Normandia, do Centro de Desenvolvimento Coreográfico Nacional de Estrasburgo e do Teatro de La Ville de Paris.