Não fosse a atual realidade pandémica, o primeiro aniversário da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, que se cumpre hoje, seria assinalado com a pompa e circunstância devidas. Mas se o contacto direto com o público e a exibição contínua de filmes são por ora uma impossibilidade, a efeméride não deixa de ser comemorada.
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No site da Fundação de Serralves e respetivas redes sociais, vai estar disponível para visita um núcleo expositivo que destaca os mais relevantes prémios internacionais arrecadados ao longo das décadas pelo mestre. À distância de um clique vai estar também a exposição permanente, composta por objetos pertencentes ao espólio de Oliveira.
"É a maneira possível de assinalarmos a data", reconhece o diretor da Casa do Cinema, António Preto, que, embora lamente o caráter mais contido dos festejos, defende que "a melhor maneira de celebrarmos o primeiro aniversário é continuarmos a trabalhar em permanência a obra de Manoel de Oliveira".
Foi o que a Casa procurou fazer nos primeiros doze meses de existência, ainda que as circunstâncias excecionais por demais conhecidas tenham obrigado a uma súbita interrupção da atividade, há três meses, seguida de uma lenta mas progressiva tentativa de regresso a uma certa normalidade.
É por esse motivo que as sessões de cinema não foram ainda retomadas ou o acesso ao espaço obedece ao cumprimento de normas rígidas de segurança. No par de meses em que as portas estiveram fechadas ao público, a Casa do Cinema não parou em absoluto, garante o seu responsável: "Analisámos as atividades passadas e preparámos as seguintes com igual empenho".
Apesar do condicionamento forçado dos últimos meses, António Preto vê a casa que dirige como "um projeto consolidado e integrado na programação múltipla da Fundação de Serralves". Para o balanço positivo que faz, tanto contribui a adesão "de um público muito diversificado, de todas as idades e proveniências" como os elogios generalizados ao projeto arquitetónico e conteúdos programáticos.
Em exibição contínua na Casa do Cinema, o filme de Arthur Jaffa "Love is the Message, The Message is Death" - inserido na exposição que Serralves acolhe até 22 de setembro - ganhou uma nova acuidade nas últimas semanas, por força dos protestos antirracistas que têm varrido o Mundo.
Por cumprir na totalidade está aquele que porventura será o maior desiderato da Casa do Cinema Manoel de Oliveira: lograr a digitalização da obra completa do realizador. Ao cabo de um ano de "trabalho difícil, invisível e inglório", nas palavras de António Preto, foram dados alguns passos nesse sentido, mas o essencial continua por fazer: apenas 10% dos filmes realizados por Oliveira foram transpostos para o suportes digital.
"Para que a sua obra possa sobreviver e continuar a ser descoberta, é fundamental que a digitalização se concretize", adverte o diretor.
"Oliveira fotógrafo"
A relação de Manoel de Oliveira com a imagem não se esgotava no cinema. Com inauguração prevista para outubro, a exposição "Manoel de Oliveira fotógrafo" encarregar-se-á de demonstrar isso mesmo, ao revelar dezenas de imagens inéditas captadas entre as décadas de 30 e 60.
Alexander Kluge
Em abril do próximo ano, a Casa do Cinema prevê inaugurar uma exposição do cineasta e filósofo alemão Alexander Kluge dedicada aos amores frustrados e à política dos sentimentos.