"Una imagen interior" da companhia catalã El Conde de Torrefiel, está no palco do Teatro Rivoli, no Porto, esta sexta e sábado.
Corpo do artigo
Assim que nascemos começa a ficção, é-nos atribuído um nome, um género, uma cor de pele, uma família, um país e a partir daí é criada toda uma história. Da qual, mesmo não compactuando, seremos eternamente herdeiros.
É nesta génese que se insere "Una imagen interior", produção da companhia catalã El Conde de Torrefiel, que se apresenta no Teatro Rivoli hoje e amanhã, comandada por dois dos mais interessantes membros da geração das artes performativas de 1980, Tanya Beyeler e Pablo Gisbert.
Sem medo da transdisciplinaridade, mas com profundo conhecimento das variadas linguagens, fazendo das suas obras objetos artísticos plenos, sem pretensiosismos ou aspirações insufladas.
A tensão entre o individualismo e o coletivo é o gatilho de criação do duo criativo El Conde de Torrefiel, autor de obras como "La plaza", "Guerrilla" ou "Escenas para una conversación después del visionado de una película de Michael Haneke" .
No Porto estiveram há seis anos com "La posibilidad que desaparece frente al paisaje".
O dispositivo cénico de "Una imagen interior" é dominador, não fossem Gisbert e Beyeler, entre outras funções, videastas, mas vai-se construindo como uma imensa mancha de Rorschach, um teste projetivo, em que a cada espectador é permitido retirar o sentido gerado pela sua mente. As ações não são dominantes, e na ficção as personagens não são o que pensam, mas o que fazem, deixando em aberto a interpretação para o espectador.
A pintura mostrada é pré-histórica e como toda a história construída a juzante, cada qual poderá encontrar justificações, mais ou menos prosaicas, sobre cada uma das coisas que pensa ver. Entre estes espaços interplanetários residem os textos existencialistas de Pablo Gisbert a viandar entre as trivialidades como uma ida ao supermercado a elaborados enquadramentos teóricos sobre a realidade e a abstração.
Um espaço cénico e sonoro avassalador, capaz de espicaçar as convenções sociais. No fim só os peixes mortos nadam com a corrente.
"Una imagen interior"
El Conde de Torrefiel
Sexta e sábado, 19.30 horas