“Incandescente”, da Esquiva Companhia de Dança, esteve esta segunda-feira em cena no Coliseu do Porto, no âmbito do 34.º Festival Internacional de Marionetas do Porto.
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Fogo, floresta e incêndios florestais. Eis o alfa e o ómega de “Incandescente”, espetáculo da Esquiva Companhia de Dança, encenado por Mariana Amorim e Tommy Luther, que também interpreta. Esteve em cena no Coliseu do Porto, no âmbito da 34.ª edição do Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP).
Peça carregada de linguagens – entre a performance, a dança, a metateatralidade e a música –, é direta na abordagem aos seus assuntos, didática e bem-humorada; poderia ser extremamente útil enquanto peça de sensibilização ambiental, em escolas e noutros contextos.
Fala-nos da floresta, da sua riqueza e diversidade, construindo ambientes em tempo real através de técnicas de sonoplastia (ou arte foley). Explica com rigor académico a origem do fogo e a história da sua relação com o humano: foi com o homo erectus, há 350 mil anos, que aprendemos a dominá-lo. A sua influência é decisiva na nossa evolução fisiológica, anatómica e sociológica. O fogo moldou o planeta e as suas paisagens e ecossistemas.
Já os incêndios acontecem, na voz do performer, sempre apoiado em dispositivos multimédia que disponibilizam dados, porque “perdemos conhecimento e domínio do fogo ao afastarmo-nos da natureza.” O papel dos bombeiros e a sua condição laboral, cujo “vencimento não é compatível com o grau de risco”, é também lembrado, assim como uma série de notícias e declarações políticas a propósito de incêndios florestais em Portugal.
Fluido na migração entre linguagens, e com um performer eficaz, que por vezes recebe instruções em off da produção, o espetáculo transmite mensagens importantes sem demagogia. Mas, incluído num festival de marionetas, cabe a pergunta: onde estão elas? Só com teoria rebuscada se poderá invocar a transformação metafórica de objetos como algo equivalente à manipulação de figuras. A teoria poderá sustentá-lo, mas ninguém acredita.