Ensemble inclusivo atua esta sexta-feira na Baixa do Porto. Grupo criado pelo Serviço Educativo da Casa da Música desafia estereótipos há 15 anos.
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Para uns, é “uma fuga da solidão”; para outros, “sinónimo de convívio e aprendizagem”. Em todos os participantes, porém, há um sentimento que prevalece: o orgulho por integrarem um projeto que faz com que, por uma vez que seja, a sua voz seja escutada por muitos. No sentido literal e não só.
Esta sexta à noite, nos Aliados, mais de três dezenas de membros do Som da Rua sobem ao palco para um espetáculo que é tanto um momento de partilha com uma cidade e região como um momento único de celebração. Há 15 anos que este ensemble inclusivo, criado pelo Serviço Educativo da Casa da Música em parceria com instituições de cariz social do Grande Porto, desafia estereótipos, em prol do objetivo maior de valorização individual e humana de cada um dos participantes.
No último ensaio antes da esperada atuação, realizado no Centro Porta Amiga da AMI, na freguesia de Campanhã, a azáfama e o entusiasmo em nada diferem da que existe em qualquer agrupamento de projeção internacional. Os nervos, a existirem, são sublimados pelo sentimento de pertença. “É sempre um desafio grande aprender com esta gente toda”, diz Carlos Rodrigues, que não duvida sequer que “conseguimos ir mais além se estivermos todos unidos”.
Com o diretor musical Jorge Prendas sempre atento aos detalhes, cada qual sabe de antemão a função a desempenhar. Ao som das flautas, guitarras e bateria de músicos convidados, os membros do grupo acrescentam a sua marca, extraindo sons harmoniosos de instrumentos improváveis, sejam garrafões vazios ou caricas.
“Vamos lá, uma última vez!”, incentiva o responsável do Serviço Educativo, antes de uma nova interpretação do tema “Nos Aliados”, um dos 13 que fazem parte do concerto.
Praticamente todas as canções resultam de uma criação coletiva, mas há casos em que a autoria pertence aos membros. É o caso de “Sentado por detrás da janela”, um fado criado por Carlos Rodrigues que “está ao nível de Tony de Matos, para mim um dos maiores intérpretes de sempre”, avalia Jorge Prendas, já nada surpreendido com o talento musical revelado por muitos dos integrantes.
Com o envolvimento no Som da Rua, vários foram os que reencontraram a quase esquecida paixão musical, forçada a passar para segundo plano
devido às contingências da vida. “Sempre gostei de cantar desde nova”, atira Anabela, protagonista de uma das canções. Mas, além da oportunidade de mostrar os dotes vocais, o projeto vale sobretudo pela “interação com pessoas em dificuldades, algumas até em condição de sem-abrigo”.
“A ligação entre música e integração é o casamento perfeito”, sustenta Susete Santos, do Centro Porta Amiga, que não esquece os benefícios trazidos para “a saúde mental e auto-estima dos participantes”.