Concerto da iraniana-holandesa foi ponto alto das primeiras horas do Sónar, com uma convidada especial no público. Até domingo há mais música eletrónica para ver, dançar e descobrir na capital.
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Já completou 30 anos, mas é para o futuro que Sónar normalmente olha. Na sua 3ª edição em Lisboa, o festival de música eletrónica conta com mais de 50 artistas, dos cinco continentes, reiterando o enfoque na mescla entre nomes consagrados e apostas emergentes. Na primeira noite da festa que acontece até domingo, Tiga e Dj Gigola foram pontos fortes, mas a cantora e produtora Sevdaliza, no seu “muito esperado” regresso a Portugal, consagrou-se rainha da noite.
A multifacetada artista iraniana-holandesa, que se tornou num nome de referência logo a partir do álbum de estreia de 2017, “ISON”, era um dos nomes fortes do cartaz deste ano, com o impacto a ser notório no público logo aos primeiros instantes. Cantora, diretora, compositora, ativista, Sevda Alizadeh, 36 anos, trouxe ao Sónar uma mescla de alguns dos seus temas mais conhecidos, como “Oh my god” e “Ride or die”, intercalados uma apresentação de canções do próximo trabalho que incluirá colaborações, em Lisboa desvendadas, com Pablo Vittar e Grimes – neste caso, na já divulgada e muito aplaudida ao vivo “Nothing lasts forever”.
Às influências díspares do trip-hop, r&b e clubbing pop dos primeiros trabalhos junta-se agora reggaeton, industrial, mais dança na música da iraniana, mas é a sua presença em palco que complementa o espetáculo, de forma absolutamente impactante: exótica, hipnotizante, sensual, por vezes meio robótica, como a sua música, a artista complementa ainda a mensagem com imagens de alta tecnologia nos ecrãs em cada tema, por vezes surgindo a ”fembot” que há anos concebeu: uma versão sua robô, clara referência às mulheres que são também robôs face às exigências da sociedade.
“Estou muito feliz por estar aqui, passou demasiado tempo para regressar a Portugal” disse a cantora logo ao início de mais de uma hora de espetáculo, agradecendo o apoio nacional com constantes interações. “Fiz esta canção há três semanas queria experimentá-la com vocês”, dizia a dado ponto, mostrando ainda um tema iraniano que canta para a filha “todas as noites, ao deitar”. Num espetáculo arrebatador, uma convidada especial: a cantora islandesa Björk foi vista numa área especial do público, a dançar e assistir ao concerto de Sevdaliza, e fonte próxima da organização confirmou ao JN que a artista esteve lá.
“Dios, que guay!”
“Dios, que guay!” Logo à primeira vista, sem perscrutar sequer as portas do recinto, o Sónar Lisboa parecia ganho para um grupo de espanhóis, mercê do primeiro impacto do imponente Pavilhão Carlos Lopes todo iluminado, com as tendas de dança e o constante burburinho de gente. Muitos estrangeiros, sobretudo espanhóis (mas de díspares nacionalidades) estão na edição deste ano do festival, como aliás é seu apanágio e como aconteceu nas duas edições que a antecederam; mas os portugueses, de variadas idades e estilos, também afluíram em número à primeira noite do evento, esta sexta-feira.
Com uma temperatura atipicamente quente e abafada para março, seria de esperar que qualquer recinto ou esplanada ao livre constituísse forma mais apetecível de passar longas horas de uma noite de sexta a entrar por manhã de sábado, mas não: no interior do Pavilhão Carlos Lopes há espaço, respira-se, circula-se e dança-se à vontade e ao jeito, espírito e expressão de cada um. “Dançar é das coisas mais livres que temos”, dizia-nos há semanas João Doce, dos Club Makumba.
Voltando ao Sónar: antes de Sevdaliza, a portuguesa Chima Isaaro, uma das DJ favoritas no panorama nacional, abriu as hostilidades com um set feito de funk, dance music, alegre e cheia de alma, soul com misturas antigas, 80’s- houve um remix de “Together again” de Janet Jackson no final, o tema e a vibe perfeitos para uma noite de verão em março.
A sexta-feira contou ainda com a energia cúmplice e elétrica do back to back de Helena Hauff com Imogen, Tiga & Hudson Mohawke com o seu 'Love Minus Zero’ e ainda Dj Gigola e Jennifer Loveless, até a noite ser dia. Nos intervalos, apanha-se ar, circula-se pelas áreas de comida e bebida, convive-se e retempera-se forças – até espreguiçadeiras há no food court –, sendo importante lembrar que o evento é cashless e a pulseira de entrada tem um código carregável com saldo pop up, para depois gastar em comida e bebida.
Mais dois dias e uma noite
Nesta terceira edição em Portugal, o Sónar vai acolher, no total, mais de 50 artistas, concentrados no Pavilhão Carlos Lopes – este ano com um espaço ampliado quer de circulação como de restauração.
Se na primeira noite só o palco SónarClub by Estrella Damm esteve funcional, nos restantes dois Sónar by Day (hoje e domingo) e um by Night (hoje), são três os palcos com concertos em permanência, fazendo recurso às tendas.
Para hoje, sábado, os visitantes podem contar com pontos altos do cartaz: concertos de Oneohtrix Point Never; Rui Vargas, o germânico Paul Kalkbrenner, Nia Archives e ainda 2manydjs invite Éclair Fifi & Erol Alkan, entre outros.
No domingo, os ravers voltam a reunir-se para a segunda e última rodada do Sónar by Day, com um line-up com co-curadoria da lenda local BRANKO, da Enchufada que promete ser uma celebração dos estilos de música de dança de todo o
mundo. Neste dia, entre outros, pontos altos são Batida Dj Set, iolanda, BRANKO, XEXA, Vanyfox, Florentino, Shygirl com o seu Club Shy e Eliza Rose.
O concerto de Moullinex com GPU Panic, que aconteceria também no domingo, foi cancelado pelo artista que alegou, nas redes sociais, “limitações técnicas”, sendo substituído por Rui Vargas.
Além da música, 2024 volta a ter enfoque no lado da tecnologia, criatividade e sustentabilidade, novamente expressos no Sónar+D, com três instalações de artistas nacionais do estúdio ZABRA, na Estufa Fria. O mesmo espaço, mas na nave, acolhe ainda palestras e workshops numa parceria com a Future Days.
Mais Sónar pelo mundo
Hoje em dia o Sónar é também um festival em digressão internacional e, depois da capital portuguesa, acontece em Istambul e acampa no Centro de Artes Performativas Zorlu PSM, já nos dias 26, 27 e 28 de abril, pelo oitavo ano consecutivo. Até o momento, o Sónar organizou mais de 100 festivais em 35 cidades e de 13 a 15 de junho, a sua tour internacional regressa à cidade natal de Barcelona.