Underworld foram um momento marcante e triunfal do segundo dia do Sónar, onde milhares de portugueses e estrangeiros viveram e celebraram as sonoridades de dança. Até ao final deste domingo, há mais música a encher o Parque Eduardo VII em Lisboa.
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É a beleza do Sónar: não é preciso gostar-se fervorosamente de techno nem ser-se frequentador habitual de clubes e raves para se apreciar e viver o festival de música eletrónica – que é aqui indiscutivelmente a sonoridade predominante, mas onde também vivem house, R &B, jungle e muito mais.
É visível pelo público: há visitantes de todas as idades, de tantos países que o mais difícil é ouvir falar português, de todos os estilos e estéticas. É audível no cartaz, que mistura sons e djs de clubbing puro, com concertos, verdadeiras performances, arte e tecnologia. E é palpável no ambiente, onde o Parque Eduardo VII, localização abençoada pelos relvados e vistas sobre a cidade, ajuda à dança, claro, essa nobre constante no evento, mas também à circulação, aos espaços para respirar e descansar, até a conviver, bonita arte em vias de extinção.
Este sábado, nem aguaceiros nem trovoadas afastaram milhares de pessoas do festival que termina a sua quarta edição este domingo, no Pavilhão Carlos Lopes e envolventes. E num cartaz que discorre entre cerca de 50 artistas e atuações, viveu-se um claro momento alto: o esperado regresso dos Underworld a Portugal, mais de cinco anos após a última passagem e com disco novo e uma data a celebrar: os 30 anos do seu terceiro álbum e do tema-hino geracional “Born Slippy”.
Em Lisboa, são seis da tarde de sábado e a zona do parque Eduardo VII já está cheia: são muitos estrangeiros, ingleses, franceses, alemães espanhóis. Entre outros, o JN encontrou um grupo de Espanha que há anos vai ao Sónar Barcelona e quis agora experimentar o de Lisboa. O balanço? “Muito positivo, a voltar”, referem. Encontrámos americanos, gregos, eslovacos. “Os Underworld são aqui?” pergunta-nos uma visitante de Israel, a apontar para a tenda exterior Sónar Park, parecendo visivelmente preocupada com a dimensão do recinto para tal concerto. “São naquele edifício”, dizemos, a apontar para a imponente fachada amarela do Carlos Lopes. "Ah, lá dentro? So cool!” solta. Naquela tenda Sónar Park, aquela hora, atuava a Dj colombiana Bitter Babe, house, bass e funk pelas colunas, os relvados inclinados circundantes perfeitos e convidativos para muitos retemperarem energias entre danças.
Perguntamos a um grupo de raparigas inglesas se já estão cansadas – estão com um ar cansado, chegaram sexta-feira de viagem e vieram quase diretas para o Sónar, e estamos na tarde de sábado: há ainda mais quase 10 horas de música neste dia e outras tantas no domingo. “Não vamos vacilar” dizem a rir, com ar de quem acredita que a dançar é que se vive e se afugenta os espíritos, não a descansar – como será o caso na maioria dos presentes.
Ao lado, na tenda maior, Sónar Village, um espetáculo mais performance, diretamente de Londres com assinatura do Josh Caffé live, que se apresenta em banda com um extravagante vocalista a cantar “I'm a superhero, I'm a superman, flying in from Mars, catch me If you can”. No interior do pavilhão, depois de Or:la, há muita gente a guardar lugar para os Underworld e outra tanta a entrar a correr à última: à hora marcada (18.55h), o recinto principal enche em segundos e quase esvazia os outros. “A nossa missão é a frente do palco” gritava uma rapariga em inglês ao grupo, levando tudo atrás.
Não seria preciso o stresse: o espaço encheu, muito, mas houve sempre onde circular, ver, ouvir e soltar a dança. “Two months off”, do seu sexto disco “A hundred days off”, é o primeiro tema dos Underworld, logo o vocalista Karl Hyde, aos saltos e a dançar como se recebesse choques elétricos ou de energia da música. Ao lado, Rick Smith de boné na cabeça, na mesa de misturas, o público ao rubro.
“Lisboaaaaa” grita o vocalista antes do novo “Techno Shinkansen” ecrãs a passar imagens abstratas ou filmagens de subúrbios e comboios, sala inteira a mexer, da linha da frente aos funcionários dos bares.
Diz a biografia que Karl Hyde tem 67 anos mas deverá ser erro, a voz continua igual ao que nos lembramos, a energia também não mudou.
Não para durante fugaz hora e meia, onde entram vários temas do novo disco “Strawberry hotel”, como “Denver luna” ou “And the colour red”, músicas que demonstram a consistência sonora do grupo e a sua imutável capacidade de contagiar. A meio do concerto há pessoas de tronco nu e totalmente a eufóricas e nem 20 horas são, mas pouco importa: "Aleluia", grita o vocalista, que nem pregador da dança, antes de “Moaner”. “Olhem para vocês. Que público bonito, já vivemos noites fantásticas no Sónar e agora vivemos um dia fantástico”, diz o vocalista antes de “Born slipoy”, telemóveis imediatamente em punho, dança em cada recanto da sala, milhares de vozes a gritar “shouting, lager, lager, lager”, um final apoteótico para o concerto de uma banda que continua tão elétrica e empolgante como nas anteriores passagens – e que já tardava em regressar.
Depois dos Underworld, passaram artistas como Dee Digs, música espiritual e comemorativa de Brooklyn, e a fechar a noite Hector Oaks e Nina Kraviz: a grande pioneira do techno no feminino de novo no Sónar.
Mais um dia
Nesta quarta edição em Portugal, o festival vai acolher, no total, quase 50 artistas, concentrados na zona do Pavilhão Carlos Lopes, este ano com um espaço ampliado quer de circulação como de restauração.
Por ali, passaram e continuarão a passar, até ao final deste domingo, dezenas de nomes fortes da dança, house e jungle mundiais, entre projetos como The Blaze, Modeselektor, Richie Hawtin, Jeff Mills, Jennifer Cardini, Clementaum e Héctor Oaks.
Para hoje, os visitantes podem contar ainda com vários pontos altos do cartaz: a música acaba pelas duas da manhã e começa cedo, cerca das 13.30h: mais de 12 horas de eletrónica para os portadores de bilhete, que podem assistir a atuações de artistas e projetos como Noia, Rita Vian, Hagan, BASHKKA b2b Ogazón – Uma masterclass de house music dada por duas das mais populares DJs do underground, que atuarão em modo -to-back em estreia – , Clementaun, Juliana Huxtable, ou Max Cooper com o espetáculo ‘Lattice 3D/AV’, entre outros. E de Detroit, a fechar o Sónar Lisboa 2025, Jeff Mills dispensa apresentações: uma das figuras mais importantes da história do techno e um dos maiores DJs do mundo faz as despedidas do festival.
Depois, e porque o Sónar é, atualmente, também um festival em digressão, segue para Istambul a 9 e 10 de maio, para a sua 9.ª edição na cidade turca; antes da 32.ª edição em Barcelona, nos dias 12, 13 e 14 de junho.