Instituição cumpriu dez anos unindo numa impactante mostra as coleções Norlinda/José Lima e Treger Saint Silvestre, para ver até maio de 2024
Corpo do artigo
“Esta é a primeira vez que se faz uma exposição assim em Portugal”, revela à cabeça aos visitantes, orgulhosa e sorridente, Berta Ferreira, uma das assistentes do Centro de Arte Oliva que comemorou este fim de semana dez anos.
O programa contou com a presença do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.
No seu discurso, o governante destacou: “É minha responsabilidade agradecer publicamente aos colecionadores...que têm gosto em disponibilizar as coleções à fruição pública, num ato de enorme generosidade”.
“Revolução na Noite”, exposição que inaugurou no sábado, com curadoria de Ana Anacleto, reúne numa só mostra seleções das duas coleções privadas do Centro de Arte Oliva: 1700 obras de Arte Bruta de Treger Saint Silvestre e 1200 de Arte Contemporânea da coleção Norlinda/José Lima; recorre ainda a obras da Coleção Fundação Millenium BCP.
Aqui evocam-se os centenários do poeta e pintor português Mário Cesariny e o do Manifesto Surrealista, do escritor francês André Breton, que se assinalará no próximo ano.
Sem uma baliza temporal rígida, Ana Anacleto, curadora, revela as ambições da mostra: “Perceber e reconhecer o papel do sonho e a valorização do mundo onírico, a importância das forças sobrenaturais, a assunção e o potencial dos estado alterados de consciência, o papel influente das mitologias e da cultura popular, a valorização do pensamento poético e das pulsões emocionais e sexuais expressivas”. O que permite uma relação dialógica entre obras, como “A despedida”, de Almada Negreiros, “A árvore de Dubuffet”, de Paula Rego, ou “As montanhas”, de Amadeo Souza Cardoso.
O sonho e a história
Maria Santos veio de Aveiro para ver a exposição. “Estudei História de arte e acho este núcleo expositivo do melhor que há em Portugal”. Quanto à suas obras favoritas, diz prezar muito “Graça Morais, que tem aqui obras fantásticas, bem como a Rosa Ramalho”, conta ao JN.
um artista rural
Artur e Beatriz, dois irmãos de São João da Madeira, foram “mandados pela professora de EVT”. As suas predileções na mostra são de René Bertholo, “pelo uso das cores”, dizem ambos.
Pedro Soares é designer e o seu favoritismo recai sobre “Jaime Fernandes”, o trabalhador rural nascido em 1899, em Barco, na Covilhã, onde residiu até aos 38 anos, quando foi diagnosticado com esquizofrenia e internado no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, onde viria a morrer em 1969. Aos 65 anos, começou a desenhar, produzindo durante quatro anos uma obra pictórica genial a esferográfica. No versos desses desenhos fazia anotações e, no verso, escrevia textos à mulher com as suas visões.