Festival de Arcos de Valdevez "tinha tudo para não funcionar", mas duas décadas depois do arranque aposta em oito noites de música no auditório da Casa das Artes da vila do Alto Minho.
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As noites de sábado de fevereiro e março em Arcos de Valdevez são noites de música. O festival Sons de Vez regressa este sábado, dia 5, com os Moonspell e termina a 26 de março com Paus.
Descentralizado, num auditório de 225 lugares e no início do ano não será o conjunto de pressupostos mais óbvios para um festival. Porém, o autodenominado Primeiro Festival do Ano vai mostrando que nem sempre a matemática está certa e após mais de 250 projetos e de mais de 19 mil pessoas a passarem pela Casa das Artes, em Arcos de Valdevez, os Sons de Vez celebram 20 anos. Outra peculiaridade? Este é um festival que se realiza todos os sábados dos meses de fevereiro e março.
"Honestamente tinha tudo para não funcionar. Fora do eixo normal, de rock e no início do ano civil, sem esquecer que há 20 anos a autoestrada não vinha até cá", explica Nuno Soares, diretor do evento. "O objetivo foi descentralizar e trazer para um concelho do interior projetos musicais, mas não foi sem resistência, principalmente dos políticos, até porque queríamos trazer bandas para atuar num auditório onde se faziam reuniões de câmara."
Porém, a resiliência de Nuno Soares, envolvido no projeto desde o início, mostrou-se frutuosa e duas décadas depois, este sábado, os Moonspell (também a celebrarem um aniversário redondo, 30 anos) abrem o cartaz com uma data da digressão internacional The Greater Tour, uma das quatro escalas em Portugal.
Ainda em fevereiro atuam, no dia 12, The Twist Connection e Club Makumba (projeto musical recente, parceria entre Tó Trips e João Doce). Dino d"Santiago apresenta o seu último álbum "Badiu" no dia 19; e o mês fecha com Kiko & The Blues Refugees, a que se junta o convidado BJ Cole, além de Rui Fernandes 4TT (dia 26).
A abrir março, no dia 5, atua o mais jovem artista do programa, Noble, na mesma noite que The Fingertips. Plastica e The Happy Mess seguem-se no dia 12; enquanto os Tarantula, veteranos do heavy metal nacional, atuam a 19, numa sessão que contará também com os Nó Cego, que interrompem dez anos de pausa e apresentam temas novos. A terminar, no dia 26, chegam os PAUS. Todos os dias dos Sons de Vez começam pelas 23 horas.
Fotografias e documentários
Já é habitual o festival acolher exposições e a deste ano anuncia-se especial. Trata-se de uma retrospetiva dos seus 20 anos, com uma seleção de mais de 50 registos fotográficos que recuam até 2002 e à primeira edição. Promete-se também um LP, a ser editado ainda este ano, com algumas das bandas do histórico dos Sons de Vez, com temas, incluindo inéditos, a serem escolhidos pelas formações que vierem a participar.
Em colaboração com o Cineclube de Arcos de Valdevez, o evento DOCSONS irá exibir, sempre às 22 horas e com entrada gratuita, quatro documentários musicais portugueses: "Desafios" de Carlos Eduardo Viana, sobre a música tradicional portuguesa (18 de fevereiro); "Já estou farto!" de Paulo Antunes, focado nos primórdios das bandas punk em Portugal (25 de fevereiro); "Ama Romanta - Uma utopia que fazia discos" de Vasco Bação e Carlos Mendes, tributo a uma editora independente que marcou a década de 1980 (18 de março); e "Chico fininho" de Sérgio Fernandes, uma história do rock nos anos 1980 (25 de março).
Depois da pandemia
A edição de 2020 dos Sons de Vez foi interrompida e a de 2021 cancelada. No ano em que o Mundo parou, foram dos poucos festivais que ainda abriram portas, com concertos dos Dead Comb, D"Alva, Pedro e Os Lobos e Capitão Fausto, tendo sido interrompido em março depois de Omiri e Maria João Fura. Em 2021 o programa chegou a prometer Carminho, Clã, Mão Morta, Tarantula, Nó Cego e Luísa Sobral, mas mais uma vez a pandemia trocou as voltas a todos.
Desta vez será diferente. "Todos os artistas estão ansiosos para regressar aos palcos, e esperámos que seja o primeiro momento para recuperar uma normalidade muito necessária", afirma Nuno Soares. "Estávamos habituados a definir o ritmo do futuro e agora é o futuro que define o nosso ritmo. Por isso, sentimos esta responsabilidade de arranque."
Os bilhetes para a 20.ª edição ficam disponíveis para compra na semana que antecede cada espetáculo, via telefone, pelo número da Casa das Artes 258 520 520. Os preços dos ingressos variam entre os 6 e os 15 euros.