Banda de João Paulo das Neves teve o seu pico nos anos 1990 e depois foi a pique. Spray reergue-se agora com o EP “Broken heart” e anuncia um novo disco para 2025.
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Há cerca de dois anos, um artigo deste jornal perguntava se “depois do céu e do inferno ainda há futuro para Spray”. Que era o mesmo que perguntar se ainda havia futuro para João Paulo das Neves, fundador de um projeto pop que chegou a Disco de Ouro em 1997 com “Pintado no luar” e que, depois, atravessou o “wild side”, nas palavras do músico, que no momento mais fundo se viu a tocar numa das saídas do metro da Oxford Street, em Londres, e a aproveitar as sopas distribuídas por uma igreja.
Agora, há notícia de que o céu poderá ter voltado para Spray, que ataca as tabelas indie inglesas com o novo EP “Broken heart”.
“Mais de 60% dos meus ouvintes são do Reino Unido e dos EUA”, diz João Paulo, que se guia por números de rádios digitais e informação inter plataformas. “O meu sonho é contribuir para a internacionalização da música portuguesa, que continua confinada às prateleiras da world music. Por que não hão de sair daqui projetos tão bem sucedidos como os Sugar Cubes, da Islândia, ou os A-ha, da Noruega?”.
"Sou eu e as máquinas"
Radicado em Londres há mais de 10 anos, Spray tem feito o seu caminho no circuito alternativo, atuando em salas icónicas como o The Unicorn Camden Live ou Lower Third. Para promover o EP, passou também por vários campus universitários em São Francisco.
“Eu e as máquinas”, assim descreve João Paulo o seu contexto de criação. Nos cinco temas de “Broken heart” a voz mistura-se com guitarras e sintetizadores até se fundir com o tecido musical. Ou até desaparecer, como em “Fairwell to Lisbon”, história de amor autobiográfica, tal como as outras do EP, que se assemelha às baladas eletrónicas dos Boards of Canada.
Spray reclama como influências bandas como The Durutti Column, Cocteau Twins ou Mazzy Star. "Mas", diz ao JN, "quem me ensinou a escrever sobre o amor foram os Beatles”.
A matéria das lendas
Editado pelo selo inglês Sounds & Visions em formato digital, “Broken heart” será sucedido por um gémeo de coração negro, “War songs”, a lançar nos próximos meses, estando em processo o LP que sairá em 2025.
Entretanto, irá participar com o tema “25-04-1974” numa compilação da ADC Records que assinala os 50 anos da revolução. E discute a possibilidade de realizar uma digressão pelas FNAC portuguesas.
Mas os concertos não são a prioridade de Spray, que encarna os altos e baixos de uma vida ambientada no rock ‘n’ roll: “Não valorizo muito a dimensão ‘ao vivo’. Todo o meu foco vai para a música. É dela que as lendas são feitas, como uma tentativa de enganar a morte”.