Nova temporada da popular série sul-coreana é um hino sangrento à vingança e terá sucessora.
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Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Há uma dose de loucura – e até de angústia – em “Squid Game” que tão depressa nos faz querer desistir da série como nos agarra com unhas e dentes ao ecrã numa espécie de viagem sem retorno. A segunda temporada da produção sul-coreana, que estreou na Netflix a 26 de dezembro, vive de vingança, mas, mais importante do que isso, de uma crítica implacável à pequenez do ser humano, que prefere, sem pestanejar, os ganhos individuais ao bem comum. Na verdade, estaremos assim tão longe da ficção?
Os novos episódios da série de Hwang Dong-hyuk decorrem três anos depois de o jogador 456 ter vencido os primeiros jogos, alinhando na obsessiva tarefa de se vingar. De que forma? Acabando com eles. Graças à fortuna que arrecadou, Gi-hun monta um esquema para encontrar o elegante recrutador de jogadores, que anda pelas estações de metro a desafiar as pessoas a jogarem “ddakji” (desafio em que se tenta virar a peça de origami do adversário). Em causa está um “passaporte” para uma série de jogos infantis, sendo que os escolhidos, todos eles com imensas dificuldades financeiras, não hesitam em aventurar-se.
A questão é que, terminado o período de inocência, segue-se o da ganância. No fim de cada jogo, os concorrentes podem decidir se regressam a casa com o dinheiro arrecadado ou se tentam aumentar a quantia no desafio seguinte, mesmo com várias mortes certas. A expressão de horror de Gi-hun face à decisão do grupo é extremamente bem conseguida e, muito provavelmente, exatamente igual à de quem está a ver a série.
Os momentos de decisão, gravados no dormitório, são pausados, o que acaba por contrastar com os instantes sufocantes dos jogos. Mas prepare-se: os desafios são mais sangrentos, há traições no percurso e um final sem resolução que se torna irritante.