Com 40 eventos em poucas semanas, espetáculos de humor vivem dias de ouro, mas há desafios por cumprir.
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A superação da pandemia, a revolução causada pelo "Levanta-te e ri", as plataformas como a Netflix, a recuperação de agendas pós-confinamento. Tudo contribuiu para o verdadeiro fenómeno - ou a fase subsequente, em que se superou o fenómeno e se firmou o séquito - do stand up comedy em Portugal.
Basta olhar para as agendas e bilheteiras: até ao final de março, há quase 40 espetáculos de stand up marcados, a maioria de nomes bem conhecidos, vários esgotados. E estes são os maiores, já que há todo um circuito mais pequeno, de clubes e bares que lotam semanalmente para acolher jovens em ascensão.
Há eventos e festivais e hoje este é um sonho que se pode perseguir - há uns anos, pelo menos em Portugal, era para muitos uma ilusão.
"Evolução normal"
Em entrevista recente ao JN, o humorista brasileiro Fábio Porchat, que também andou numa tour por cá, falava na forte adesão dos portugueses a este formato, onde o riso é fácil e a boa disposição garantida. Até porque rir é sempre um escape e, explicava, contas feitas há em média "uma risada a cada 10 segundos", num espetáculo destes.
O JN falou com alguns dos intervenientes que já chegaram ao patamar das digressões e salas cheias em Portugal, para tentar perceber este momento que, admite a maioria, não é de hoje, mas cresceu muito. "É um tipo de espetáculo relativamente recente cá. O bilhete, regra geral, é mais acessível do que um concerto e acaba por ser uma oferta interessante. O fenómeno Netflix e a Internet também ajudaram", explica Luís Franco-Bastos, falando também na viragem que o "Levanta-te e ri" marcou.
Com um espetáculo na estrada, o humorista admite ser esta uma boa fase, "pelo crescimento do mercado, o interesse do público e a recetividade que as infraestruturas começam a ter".
Também para Diogo Faro, esta é "uma evolução normal" do que já tem vindo a acontecer" noutros países. "Há cada vez mais comediantes em Portugal, e de muitos estilos diferentes, o que faz com que se atraia muito mais gente" explica. O humorista admite um "excelente momento".
Pedro Gonçalves, manager de artistas como Gilmário Vemba, também atribui o crescimento de espetáculos ao "Levanta-te e ri", às plataformas digitais e redes sociais e à recuperação de datas e agendas da pandemia, que ainda está a acontecer. Destaca, porém, um outro lado: diz que em muitos casos "é uma arte que continua a não ser reconhecida", havendo "teatros em Portugal que não programam stand up".
Quanto à rentabilidade, há riscos a assumir sobretudo ao início e nas deslocações pelo país ou no tipo de salas. "Há salas que não são rentáveis. Se formos fazer um espetáculo longe, uma sala com 100 pessoas, pouco ou nada sobra. Às vezes, é só mesmo por amor à camisola". Quando se fazem salas grandes, se o artista chegar a esse ponto, o caso muda, o que não se aplica no entanto a muitos dos que ainda estão a começar. Pedro Gonçalves destaca, por isso, o papel importante dos bares e clubes, sobretudo do Lisboa Comedy Club.
Ainda sobre o momento, salienta que até na televisão se nota a mudança, ao começar a ser regular o stand up em horário nobre. E conclui, lembrando que "tudo ajuda a crescer" e "quanto mais noites houver" e "mais salas perceberem" que podem acolher e lucrar - melhor será para o aparecimento de novos humoristas e públicos.
AGENDA
Alexandre Santos
Hoje, Altice Forum Braga;
11 de março, Europarque (S.M. Feira)
Beatriz Gosta, "Resort"
Quarta-feira, Teatro Villaret, Lisboa; 14 de abril, Teatro Sá da Bandeira, Porto
Joana Marques, "Extremamente desagradável"
Quinta-feira, Coliseu Porto
Chiado Comedy Club Humor Negro
Sexta-feira, dias 10 e 24 de março, Teatro Bocage Lisboa
Terapia de Casal (Rita da Nova e Guilherme Fonseca)
Quarta-feira, Coimbra
Matéria Prima
Sexta-feira, Lisboa Comedy Club
Guilherme Duarte, "Limbo"
2 de março, Vila Real + tour nacional
António Raminhos
4 de março, Teatro Cinema de Fafe
André Martins "Mandato de Captura"
4 de março, Évora + tour nacional
Miro Vemba "Grande Irmão"
8 de março, Tivoli Lisboa; 9 de março, Teatro Sá da Bandeira
Marias Cheias de Graça
18 março, Teatro Sá da Bandeira,
Paulo Almeida "Cara Lavada"
23 de março, Maxime Lisboa
Diogo Batáguas , "Relatório DB ao vivo"
24 março, Campo Pequeno Lisboa, 7 abril, Super Bock Arena Porto
Fernando Rocha
24 de março, Expocenter Viseu; 21 abril, Almada
Joana Gama, "Não sei ser"
31 de março, Time Out Market
Luís Franco-Bastos, "Diogo"
25 de maio, Teatro Sá da Bandeira, Porto