Studio Ghibli: tendência alimentada por inteligência artificial ameaça sustentabilidade
Criar imagens virais ao estilo Studio Ghibli consome muita água e energia, o que significa um impacto ambiental considerável.
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Na última semana, as redes sociais foram recheadas com imagens inspiradas no Studio Ghibli, a partir de fotografias reais que se pintaram com cores vibrantes ao estilo da animação da famosa produtora japonesa fundada em 1985. As publicações são obra da inteligência artificial (IA), potenciada pelo lançamento do gerador de imagens do GPT-4o, da OpenAI, ditando a tendência que se tornou viral, permitindo que qualquer um possa criar a sua imagem à custa do trabalho de verdadeiros artistas, o que tem levantado questões sobre direitos e autor e sustentabilidade.
Uma maioria deixou-se seduzir pela “trend”, sem medir consequências, bastante usar o comando certo. O que para o utilizador significa alguns cliques consome entre 0,01 e 0,1 kWh de energia, gerando calor. Isto quer dizer que o arrefecimentos dos servidores nos centros de dados (que funcionam sem interrupções) consome grandes quantidades de água, causando enorme impacto ambiental, pois são milhões de imagens criadas.
Perante o fenómeno, Sam Altman, CEO da OpenAI, alertou sobre o problema: “As nossas GPUs (Unidade de Processamento Gráfico) estão a derreter. Vamos limitar temporariamente as gerações até tornarmos o sistema mais eficiente”. Assim, só é possível criar três imagens por dia na versão gratuita do ChatGPT.
Para ter uma ideia, apenas numa hora, 1 milhão de pessoas registaram-se no serviço, gerando cerca de três milhões de imagens diárias, significando que seriam necessários 7500 litros de água por dia. No que respeita à pegada de carbono, cada imagem pode libertar entre 5 e 50 gramas de CO2 na atmosfera, o que contribui para alterações climáticas.
Danos à verdadeira arte
Apesar de ter seduzido os internautas, o uso da IA para copiar o estilo do famoso estúdio de animação japonês está a ser criticado por outros, inclusive figuras públicas, por prejudicar o trabalho dos artistas reais. Em2016, o cineasta Hayao Miyazaki, cofundador do Studio Ghibli, descreveu esta tecnologia como um “insulto à própria vida”, condenando-a.
Em Portugal, a dupla de influencers Explorerssaurus (Raquel e Miguel) aderiu à tendência e os seguidores chamaram à atenção por a mesma estar “a causar muitos danos à equipa criativa do Studio Ghibli. “É muito melhor criar arte do que gerá-la”, lê-se nos comentários. “Honestamente, não estávamos cientes da controvérsia em torno desta ‘trend”. Nós apenas achamos isto superfofo e não vemos isto como roubar o trabalho de um artista, mas sim como uma inspiração. Claro, com a IA, as coisas estão mudar tão rápido e há sempre dois lados da moeda. Mesmo que simplesmente peças ao ChatGPT para criar um desenho animado fofo com base na tua foto, ele geralmente gera algo muito semelhante”, respondeu o casal, antes de eliminar a referida publicação.