Take That no Marés Vivas: adolescentes de meia-idade de “cuecas molhadas há 34 anos”
Festival de Gaia abriu a 16.ª edição repleta de público com uma devoção que demorou 34 anos a concretizar: os Take That atuaram finalmente em Portugal. Foi o delírio, obviamente.
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“Conhece a expressão sweet sixteen? É o que eles [Take That] me fazem sentir”, conta Sandra Matos, ruborizada. Ela e as amigas estão ataviadas em camisolas rosa condizentes, a mesma frase estampada: “It’s a good day for a TT concert”. A febre começou “quando fui estudar economia para Londres, nos anos 90”, conta a adolescente, agora com “16x3”, como revela ao JN a sorrir.
Mas o fenómeno não era exclusivo delas, logo na entrada do recinto do Meo Marés Vivas, festival que abriu esta sexta-feira e se prolonga até domingo, no pinhal do antigo parque de Campismo da Madalena, via-se a frase “Whatever I said, whatever I did, I didn’t mean it, I just want you back for good”: a letra icónica dos Take That impressa na parede serviu de cenário a milhares de fotos.
Mas quando o T invertido em cima de outro T direito se acendeu no ecrã gigante do palco principal, no seu neon de azul cintilante afilado, era já perto das 22 horas desta sexta-feira, e uma voz inconfundível perguntou num tom quente “olá Porto, are you ready?” e de supetão os três Take That entraram e logo entoaram “Greatest day” a ribombar, foi a loucura, evidentemente.
Os fãs esperaram mais de três décadas, e eles chegaram para matar a nostalgia. Trazem os mesmos maneirismos de antanho: coreografias alinhadas, muito ensaiadas, braços sincronizados, figurinos a condizer, remates com a cabeça. Cantam afinadíssimos a fazer falsetes, finos como ninguém, pedem ao público, e o público parecia estar sempre ferver, que se mantenha grande como “Giant”.
A resposta do público que apinhava o pinhal foi sempre a mesma, também ela a obedecer à sincronização coletiva: gritos, palmas, cascatas de lágrimas aqui e ali - e riso, muito riso e genuinidade, numa pureza emocional que contagiava toda a gente, adolescentes e adolescentes de idades vezes três.
E, de súbito, lá no meio dos espectadores da frente, eis que uma mulher em delírio acena um cartaz: “Tenho as cuecas molhadas por vocês há 34 anos”. E eles respondem: “Sua marota, demorámos apenas 34 anos, mas chegámos”. A risada foi geral.
Mesmo perdendo dois membros - e um deles foi Robbie Williams -, os TT seguem com Gary Barlow, Mark Owen, Howard Donald. Os velhos êxitos dos anos 1990 que os construíram, “Back for good”, “Relight my fire”, “Pray” e “Never forget”, soaram ali, agora, frescos e cheios de vigor.
Os TT continuam a ter harmonias vocais impressionantes, uma performance enérgica e capacidade de reinvenção ao longo dos seus (muitos) anos. E como adolescentes que se prezem, as emoções, as deles e as do público, estiveram sempre à flor da pele.