"Pequeno Livro Arquivo - Pensamentos, Palavras, Actos e Omissões" de Luís Miguel Cintra, foi apresentado esta quarta-feira, no Porto. A obra é da chancela das Edições 70.
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"Luís Miguel Cintra foi e é um procurador da República, não no sentido judicial, mas como alguém que esquadrinha e pesquisa e é uma honra tê-lo na nossa presença", disse Pedro Sobrado, presidente do Conselho de Administração do Teatro Nacional São João (TNSJ).
A apresentação da obra "Pequeno Livro Arquivo - Pensamentos, Palavras, Actos e Omissões", apresentada esta quarta-feira, reúne textos que o ator e encenador foi escrevendo sobre teatro, cultura, arte, os amigos, a vida e o Teatro da Cornucópia que dirigiu ao longo de 40 anos, encheu o Teatro Carlos Alberto, no Porto e acabou com uma ovação de pé.
José Tolentino Mendonça, "apanhado pela covid" não pode estar presente fisicamente na sessão, mas fez uma declaração em vídeo contando que a obra "é ensaística, não apresenta uma tese, mas uma quantidade de interrogações", ao que acrescentou que "o corpo de cada um de nós é um arquivo e no caso de Luís Miguel Cintra, é um arquivo de todas as encenações que fez". Relembrando ainda que "o papel da cultura não é um gesto individual, é uma corrida de estafetas, onde temos de passar o testemunho uns aos outros".
Uma picardia inata
Entre as várias anedotas e aventuras que Luís Miguel Cintra, figura tutelar do teatro nacional relatou, com picardia, sobre o Porto, relembrou que no TNSJ sempre foi tratado principescamente, especialmente por Ricardo Pais (antigo diretor do TNSJ). Recentemente como espectador, umas senhoras do público mandaram-no "respirar mais baixo, porque não ouviam as atrizes". Respondeu que era um problema de saúde, portanto inevitável, perante a indignação das próprias, e diz ter refletido como passou de "príncipe a escravo", no mesmo edifício.
Além do TNSJ, não desconsiderou o Teatro Carlos Alberto, onde decorreu a apresentação, relembrando ser "um local onde passei um maravilhoso verão de 1975, onde apresentávamos Dario Fo de noite e íamos tomar banho ao Canidelo durante o dia".
Entre outros episódios, menos felizes lembrou a "lãmina da guilhotina" que foi o final do Teatro da Cornucópia, em 2016, e, sempre sem perder a ironia, relembrou o dia em que coincidentemente, recebeu "a medalha de mérito cultural do Ministério da Cultura e a rejeição do apoio a que me tinha candidatado, dos mesmos".
O encenador contou também o que assumiu como o seu cavalo de batalha, "o reconhecimento do encenador como autor", mas, acrescentou que nem as Finanças se compadeceram da sua teoria, dizendo que "o autor de Romeu e Julieta era apenas um, Shakespeare e mais nenhum", provocando a gargalhada geral na sala, maioritariamente composta por figuras do teatro.
João Moita, responsável editorial convenceu-o, a algum custo a reduzir o livro. Já com algum distanciamento conta que foi pelo melhor, porque "não posso esgotar tudo, ou fico sem motivos para viver", disse Luís Miguel Cintra. Além do livro foi também apresentado o trailer do documentário de Sofia Marques, sobre a vida do ator.
Neste livro arquivo está reunida a "vida de um fiteiro... que fez desse vício uma virtude no Teatro" . Como rematou o seu discurso: "Nem toda a arte é efémera, o artista é que é efémero".