A ucronia que veio “corroer” e combater a “pompa que se arma” no 25 de Abril.
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Enquanto a Europa se livrava dos sistemas opressores, a América Latina entrava numa era de ditadura. Se Portugal celebrava a liberdade em 74, o Chile sofria, no ano anterior, um golpe de estado que veio oprimir o país.
Em “G.O.L.P.”, vemos a união destes dois países. Numa cocriação entre o Teatro Experimental do Porto e o Teatro La Maria, Gonçalo Amorim e Alexis Moreno imaginaram uma ucronia. Similar ao género da história alternativa, empregar uma ucronia é explorar um cenário hipotético, algures num passado remoto.
A premissa parte da junção de duas perguntas distintas. A primeira desencadeou a motivação: e o que aconteceria se não tivesse ocorrido o 25 de novembro?
Na ucronia, Portugal é o único modelo comunista bem-sucedido, um exemplo de excelência, um modelo a seguir. Desta forma, pretende-se “potenciar a leitura que o estrangeiro faz de Portugal, como se fossemos uma espécie de oásis”, partilhou o encenador Gonçalo Amorim.
Logo à partida, denota-se o sucesso. A neve e a comida faz de conta, os portugueses de lenços tradicionais, barretes russos, sobretudos beges e as ventoinhas para o calor. “Tudo é falso, salvo o ideal comunista”, confessa Moreno.
Diretamente do Chile, chega uma delegação inocente, vítima de outro governo, à procura de ajuda. Ignorantes da política, por serem simples atletas de competição amadores de sopa de letras.
Pela sua pureza, a única solução é simples, provocar uma guerra. “Mas não se preocupem. Amanhã, logo à primeira hora, rendemo-nos”.
O pânico instala-se – “é a partir daqui que vemos realmente a obra”, diz-se – e surge então a segunda premissa: será possível projetar um futuro só com discursos emocionais?
É uma crítica, bastante política, que se distingue das demais comemorações por “corroer, um bocadinho, a pompa que se arma”.
A peça teve estreia nacional esta quinta-feira, no Teatro Rivoli, com reposições sexta e sábado, ambas às 19.30 horas. Os bilhetes custam a partir de nove euros.