Teatro Experimental do Porto celebra 70 anos a abrir o seu arquivo. Tânia Dinis estreia esta sexta-feira "Elas entram e ficam!" em homenagem às atrizes da companhia de teatro mais antiga do país.
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A 18 de junho de 1953, o Teatro Experimental do Porto (TEP) apresentava a sua estreia com "A gota de mel", no Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Uma encenação de António Pedro, figura mítica do teatro nacional que, à época, vivia uma espécie de exílio em Moledo.
70 anos depois, a companhia teatral mais antiga de Portugal em atividade - feito que o diretor Gonçalo Amorim atribui à capacidade de associação da sociedade civil - estreia hoje, no Teatro Rivoli, Porto, "Elas entram e ficam!", de Tânia Dinis. Também no Porto, mas no Mosteiro S. Bento da Vitória (dias 18 e 19) é apresentada "Teoria das três idades", outra produção do TEP, com encenação de Sara Barros Leitão.
Ambas as produções têm como denominador comum o arquivo do TEP e Joaquim Portugal, o autodidata que se deu ao trabalho de organizar toda a documentação da companhia, agora arquivada no CACE Cultural do Porto.
Tânia Dinis, artista que trabalha predominantemente sobre mulheres, partiu do arquivo visual para descobrir quem eram as atrizes do TEP e os papéis que lhes eram atribuídos. Desse levantamento criou uma maravilhosa "mise-en-scène" em que, com fotografias em cartão, de tamanho real e recorrendo a acetatos, criou através da fisicalidade destas atrizes uma nova história.
Mas, cada nova história vem revestida de camadas passadas. Aqui coexistem obras como "O crime da Aldeia Velha", de Bernardo Santareno, ou "A Casa de Bernarda Alba", de Federico García Lorca, ambas inspiradas em histórias reais.
Estas histórias estão também paragonadas com as provas que as próprias atrizes tiveram de superar, desde o tom de voz, o tamanho do figurino e toda a sugestão de sexualidade que muitas vezes dependia apenas da imaginação do censor.
O texto de Pedro Bastos, escrito em tom de duelo - não aconselhável a pessoas literais - alega: "Todos a querem comer e a culpa é sempre dela". "Deus perdoa os que não sabem o que fazem", mostrando que, graças a estes silogismos, as mulheres continuam a ser queimadas na fogueira porque os homens não podem resistir ao "Diabo".
Elas entram e ficam! -Teatro Experimental do Porto
Teatro Rivoli
Dias 16 e 17, 19.30 horas