
Cruzeiro Seixas em 2019
Leonardo Negrão / Global Imagens
Artista plástico, poeta, visionário e sempre inconformado, Artur Cruzeiro Seixas completaria esta quinta-feira, menos de um mês passado sobre a sua morte, 100 anos. Para celebrar a efeméride, há um conjunto de exposições e iniciativas que enaltecem o seu percurso e obra multifacetada.
É um momento raro para se descobrir uma parte substancial do trabalho daquele que foi um dos embaixadores do Surrealismo português, mas sobre quem falta investigar a obra, dizem especialistas ouvidos pelo JN.
"É um centenário muito emotivo", confessa o galerista Carlos Cabral Nunes, que nos últimos 20 anos privou de perto com o artista e sobre ele organizou múltiplas exposições. Este responsável da Perve Galeria, em Lisboa, lamenta que não haja um conhecimento mais profundo de toda a obra de Cruzeiro Seixas. "Está por realizar um estudo que permita ter um conhecimento aprofundado da amplitude da sua obra", defende o galerista, lembrando também que o percurso do artista foi acontecendo "à margem dos circuitos de consagração".
A opinião é validada pelo historiador e crítico de arte Bernardo Pinto de Almeida. "Se a obra de Cruzeiro Seixas atravessou décadas numa estranha cumplicidade com o mais grave silêncio da parte dos comentadores e, paradoxalmente, com o reconhecimento fascinado de uns quantos, é porque a atitude do artista exigiu desde sempre esse registo de quase intimismo", escreveu.
"Cruzeiro Seixas tinha o vício de pintar e desenhar", lembra, a propósito, Francisco Pereira Coutinho, da Galeria São Mamede, onde o artista foi diretor artístico nos anos 70 do século passado.
Tempo valorizará a obra
"Tem uma obra imensa, mas é importante distinguir o trigo do joio", ressalva. Contudo, diz, "é indiscutível que há toda uma obra muito sólida que, essa sim, deveria ser objeto de um trabalho mais aturado do que aqueles que já foram publicados nos anos 80".
Para Pereira Coutinho, cuja galeria também inaugura hoje uma exposição de homenagem ao artista que morreu no passado dia 9 de novembro, "quanto mais tempo passar mais a sua obra será valorizada".
Alertando para o facto de ser um mito que a morte de um artista signifique de imediato a valorização do seu trabalho no mercado, o galerista admite que tem recebido, nesse sentido, vários pedidos de informação sobre a obra do pintor e poeta. No entanto, lembra que "ele tinha praticamente 100 anos. Por isso, o mercado já há muito que se havia antecipado a esta sua idade".
Na mesma linha de pensamento, Carlos Cabral Nunes afirma que nem todos os artistas atingem um patamar cuja obra represente um ativo financeiro. "No caso do Cruzeiro Seixas, penso que a obra vai valorizar mais à medida que o tempo passar".
Três mostras e um filme na Cinemateca
Na Atmosfera M e na Sociedade Nacional de Belas Artes, ambas em Lisboa, são inauguradas, respetivamente, "Construir cem nadas perfeitos" e "Núcleo Cadavre Exqui". Também hoje, pelas 17.30 horas, a Cinemateca Portuguesa exibe o documentário "Cruzeiro Seixas - As cartas do rei Artur". Ainda em Lisboa, a Galeria São Mamede inaugura "Este desejo de voar sem asas". Nesta mostra estarão obras do homenageado, mas também de artistas sobre os quais ele organizou exposições. É o caso de Jorge Vieira, Carlos Calvet ou Raul Perez.
