Manuel António Pina era membro do Conselho Geral da Fundação Cidade de Guimarães desde Outubro de 2011. Não foi necessário esgrimir argumentos em favor da proposta. Mais difícil de explicar seria o da omissão anterior.
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O valor do intelectual que aliou a independência crítica a um fino discurso analítico da realidade portuguesa e do escritor para quem a plasticidade da língua não conhecia limites justificava a sua presença num organismo que incluía já a figura tutelar de Eduardo Lourenço. Acresce que o consabido fascínio de Manuel António Pina pelo cinema o trouxera até ao convívio amigo e noctívago dos dirigentes do cine-clube vimaranense. Era estimado na cidade.
O Manuel António Pina, a quem me dirigi com a solicitação de inclusão pro bono na Capital Europeia da Cultura, era um homem afável, que nem por um momento pôs em dúvida a pertinência do projecto a que se iria ligar. Sorriu-me com aquela expressão de inocência com que nos brindava de lábios apertados à sombra do bigode. Esse sorriso era o sinal da cumplicidade que tão bem sabia reconhecer e cultivar. Também a designou por amizade, "uma espécie de tesouro escondido onde só se alcança depois de ter vencido longamente caminhos e tempestades".